sábado, 31 de outubro de 2009

não haver palavras és tu a desaparecer








A quem senão a ti direi
como estou triste? Mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-
de juntar o que me está doendo ao ven-
to que não bate mais à tua porta? Eu sei


que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. Em cada um está Cristo


sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado


ser por todo este absurdo. Morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.


Não haver palavras és tu a desaparecer.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Apenas queria escrever-te










"...nada me resta dizer. Apenas queria escrever-te. Com dedos de carvão que se desfazem em cada letra que tento despejar no papel."


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

sinceramente tuyo







...
es insufrible ver que lloras
y yo no tengo nada que hacer
...

cuentale a tu corazon
que existe siempre una razon
escondida en cada gesto del derecho y del reves
uno solo es lo que es y anda siempre con lo puesto
nunca es triste la verdad
lo que no tiene es remedio






domingo, 25 de outubro de 2009

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!









Faz-me o favor...


Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.


É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.


Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.




(enviado por alguém porque lhe apeteceu. ainda bem)

sábado, 24 de outubro de 2009

que ninguém hoje me diga nada






Que ninguém
hoje me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo.


Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.

Fernando Namora

daqui

terça-feira, 20 de outubro de 2009

por vezes é preciso esquecer










«(...) Por vezes é preciso esquecer para poder continuar. Esquecer, ou pelo menos afastar para um lugar onde não andem à solta, fazendo estragos, provocando sentimentos à deriva, experiências que nos fazem temer que não somos nós que temos mão sobre a vida, mas ela que tem a sua mão sobre nós.(...)»


pedro paixão in «a cidade depois»

sábado, 17 de outubro de 2009

you and she






“ You may not be her first, her last, or her only. She loved before she may love again. But if she loves you now, what else matters? She’s not perfect - you aren’t either, and the two of you may never be perfect together but if she can make you laugh, cause you to think twice, and admit to being human and making mistakes, hold onto her and give her the most you can. She may not be thinking about you every second of the day, but she will give you a part of her that she knows you can break - her heart. So don’t hurt her, don’t change her, don’t analyze and don’t expect more than she can give. Smile when she makes you happy, let her know when she makes you mad, and miss her when she’s not there. "

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

tudo cura o tempo







“Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as feições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e bastam que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor?! O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar menos.”


Padre António Vieira, Sermão do Mandato

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém





Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.


Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.


Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

o que não fiz








Só uma coisa me entristece
o beijo de amor que não roubei
a jura secreta que não fiz
a briga de amor que não causei


nada do que posso me alucina
tanto quanto o que não fiz
nada que eu quero me suprime
de que por não saber ainda não quis


só uma palavra me devora
aquela que meu coração não diz
só o que me cega o que me faz infeliz
é o brilho do olhar que não sofri




sábado, 3 de outubro de 2009

a vida é esta incerteza que em mim mora








Cheguei.
Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza
Vagueio pela murmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mais nada.
Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa
Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir.
E ponho-me a pensar
Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009