quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

diz-me











diz-me se
na água reconheces o rumor
adormecido nos búzios



diz-me se o outono tem
a ver com as algas
com a incerteza das folhas



e se há um sentido oculto
no rodar das estações



diz-me se
toda a imagem é engano
ou filha enjeitada
do fogo



diz-me se é certo
que o tempo
é o único olhar
prolongado nos dias



se a vida é o avesso da vida
e se há morte











josé tolentino de mendonça









segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Quero-te













Quero-te, como se fosses
a presa indiferente, a mais obscura
das amantes. Quero o teu rosto
de brancos cansaços, as tuas mãos
que hesitam, cada uma das palavras
que sem querer me deste. Quero
que me lembres e esqueças como eu
te lembro e esqueço: num fundo
a preto e branco, despida como
a neve matinal se despe da noite,
fria, luminosa,
voz incerta de rosa.


Nuno Júdice

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

este momento que ia desaparecer, com saudade









Olhava este momento que ia desaparecer, com saudade – porque nunca mais se repetiria no mundo. Nunca mais outro segundo igual nem na luz, nem na vibração, nem na ternura…
O momento em que me sorriste, baloiçado entre o nada e o nada, nunca mais se voltaria a repetir, idêntico e completo, em todos os séculos a vir! Estava ali a morte… está aqui a vida. Agora pergunto a mim mesmo se te deixo morrer; e a pergunta obsidia-me e exige resposta imediata. Sei tudo, tudo o que me podes dizer – já eu o disse a mim próprio. Até hoje falava a alguma coisa que me ouvia, hoje só interrogo a mudez, só a mim próprio me interrogo


raul Brandão in húmus


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

envelheces








Envelheces tanto de cada vez que o dia termina
e olhas para trás. Tens medo do começo do fim,
das tardes de domingo; um dia, distraído, tens medo
do sexo, da amabilidade e da noite, e dos rostos
que foram belos – e não são mais. Envelheces muito
quando o mundo contraria as pequenas coisas,
sentes esse cansaço, nada a fazer.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Como é que se pode falar deste desamparo que temos no mundo?


















“É difícil falar de certas coisas. Como é que se pode falar deste desamparo que temos no mundo? O que é que fazemos com isso? Carregamos isso, esses sentimentos tão presentes. E há uma grande necessidade de gastar emoções”

Pina Bausch

domingo, 13 de dezembro de 2009

aqui estou eu






Aqui estou eu
Sou uma folha de papel vazia
Pequenas coisas
Pequenos pontos
Vão me mostrando o caminho
Às vezes aqui faz frio
Às vezes eu fico imóvel
Pairando no Vazio
As vezes aqui faz frio
Sei que me esperas
Não sei se vou lá chegar
Tenho coisas p'ra fazer
Tenho vidas para a acompanhar
Às vezes lá faz mais frio
Às vezes eu fico imóvel
Pairando no vazio
No perfeito vazio
Às vezes lá faz mais frio
(lá fora faz tanto frio)
Bem-vindos a minha casa
Ao meu lar mais profundo
De onde saio por vezes
Para conquistar o mundo
Às vezes tu tens mais frio
Às vezes eu fico imóvel
Pairando no vazio
No perfeito vazio
Às vezes lá faz mais frio
No teu peito vazio


Perfeito vazio



Xutos e pontapés

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

poesia
















A poesia não vale grande coisa para estes dias – é uma espécie de sobressalto, de língua que vem da sombra para dar às coisas um nome flutuante. Não há grande coisa para dizer sobre a poesia. Devia ler-se. Para dentro ou em voz alta. Não que faça falta “à cidadania” ou “à sensibilidade”. Às tantas, as pessoas viveriam melhor sem literatura – mas eu duvido. Faltar-lhes-ia um suplemento de beleza ou de devassidão.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

todo o presente espera pelo passado para nos comover


virgilio ferreira (daqui)

ties










“The ties that bind us are sometimes impossible to explain. They connect us even after it seems that the ties should be broken. Some bonds defy distance and time and logic… Because some ties are simply… Meant to be.”


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tu a ficares enquanto saías






Eras tu a ficar por não saberes partir,
E eu a rezar para que desaparecesses,
Era eu a rezar para que ficasses,
Tu a ficares enquanto saías.







Excerto dos Toranja



domingo, 6 de dezembro de 2009

tenho medo de esquecer tudo











Às vezes tenho medo de esquecer tudo:
a casa onde nasci, o recreio
da escola, essas vozes
que lembram um copo de água
no verão.



jorge gomes miranda
"o que nos protege", daqui

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

gran torino













Realign all the stars above my head
Warning signs travel far
I drink instead on my own Oh! how I've known
the battle scars and worn out beds


gentle now a tender breeze blows
whispers through a Gran Torino
whistling another tired song


engines humm and bitter dreams grow
heart locked in a Gran Torino
it beats a lonely rhythm all night long


these streets are old they shine
with the things I've known
and breaks through the trees
their sparkling


your world is nothing more than all the tiny things you've left behind


So tenderly your story is
nothing more than what you see
or what you've done or will become
standing strong do you belong
in your skin; just wondering


gentle now a tender breeze blows
whispers through the Gran Torino
whistling another tired song
engines humm and bitter dreams grow
a heart locked in a Gran Torino
it beats a lonely rhythm all night long


may I be so bold and stay
I need someone to hold
that shudders my skin
their sparkling


your world is nothing more than all the tiny things you've left behind


so realign all the stars above my head
warning signs travel far
i drink instead on my own oh how ive known
the battle scars and worn out beds


gentle now a tender breeze blows
whispers through the Gran Torino
whistling another tired song
engines humm and better dreams grow
heart locked in a Gran Torino
it beats a lonely rhythm all night long