segunda-feira, 27 de maio de 2013

chegar antes de ti














Como gosto, meu amor, 
de chegar antes de ti para te ver chegar: 
com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água 
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. 

a mais certa certeza de que gosto de ti, como 
gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.





Nuno Júdice







domingo, 19 de maio de 2013

éramos só nós


















numa noite de audácia incomparável
passo a tratar-te por tu, e abraço com as pontas dos dedos
os nós das tuas mãos; no fresco calor condicionado
de um quarto onde a luz não dá para ler, recito
estrofes e mitos; beijo-te, não é? nada estava escrito,
nenhuma verdade comum aos planetas,
éramos só nós sem nenhum segredo,
vivos e completos, serenos, mortais







António Franco Alexandre











quarta-feira, 15 de maio de 2013

vem , sem medo














e tu sussurras:- não, não afastes a boca da minha orelha.
derrama dentro dela aquilo que não consegues dizer em voz alta.
e eu digo:
- as tuas mãos queimam-me a fala.
tu sorris, dizes:
- vem , sem medo, pela aridez do meu corpo.
no fundo de mim existe um poço onde guardo a tua imagem. é tempo de ta devolver. é tempo de te reconheceres nela.






Al Berto


domingo, 12 de maio de 2013

Amor



















Queria dizer-te. Queria. 
Queria olhar-te. Olhar-te com força – como se olha com força? E dizer-te.
Dizer-te que sim. Sempre sim. Desde o primeiro não que sim. 
Dizer-te que quero. Olhar-te com força. Dizer-te. Queria. 
Dizer-te. Negar o não. Negar o não que desde sempre – onde começou o sempre? – foi sim. 
Dizer-te menti. Dizer-te fugi. Dizer-te parti. 
Queria. Dizer-te aqui. Dizer-te agora. Dizer-te já. 
Queria. Sempre queria. 
Queria, amor. Amor. 
O imperfeito. Queria. O imperfeito.
Amor.




















quinta-feira, 9 de maio de 2013

Noites sem sexo













Noites sem sexo são perfeitas, também: janelas entreabertas, sombras que passam na rua através das horas, relâmpagos que não chegam a iluminar as paredes do quarto.

Românticos que se encontram depois de viver vidas paralelas, cansados – mas enlaçados antes que chegue a hora de partir, sem saberem se amanhã há outro sono igual, ou uma escolha para fazer. Os dois sabem que são doidos, estendem os dedos na escuridão entre as luas. Os dois sabem que mais adiante podem arder de repente no meio do Verão, consumidos pelos segredos e pela indiferença. Noites sem sexo são perfeitas, também; e raras, e condenadas e incompletas. Borboletas no estômago, batendo asas contra todas as paredes do corpo – não deixando
que ele adormeça, inquieto e insatisfeito, voltado para dentro e para o passado. Românticos que se encontram quando nenhum deles esperava outra oportunidade, outro caminho. Nunca estamos preparados, diz um. Nunca estamos, repete o outro, quando a primeira borboleta sossega depois de um beijo em dívida.









Francisco José Viegas



daqui



imagem














quarta-feira, 1 de maio de 2013

pensei em ti













Esta manhã não lavei os olhos -
pensei em ti.

Se o teu ouvido se fechou à minha boca
poderei escrever ainda poemas de amor?
A arte de amar não me serve para nada.

Um fogo em luz transformado.
Subitamente, a sombra.

Há dias em que morro de amor.
Nos outros, de tão desamado,
morro um pouco mais.






Casimiro de Brito