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morreste-me. Mas a memória guarda-me o teu cheiro, as tuas
mãos e o teu sorriso. Estás em nós e eu estou em ti. Eu jamais seria eu sem a
tua presença constante na minha vida. Comparência que eu gostaria de poder
prolongar. Mantenho a memória acesa com pedaços de imagens que me fazem sorrir.
Deixaste-te ficar em tudo... os teus movimentos, o eclipse
dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as
margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da
tarde; és o mundo todo por seres a sua pele.
E é-me indiferente estar aqui. Sempre que posso fujo, fujo
no olhar que cegou o meu. Porque eu fujo e vou com tudo aquilo que me chama e
me toca. Vou com o azul dos olhos do marçano ali da esquina, vou com as folhas
das árvores no Outono da minha rua, vou com a noite à procura da manhã sobre o
rio. Vou pelos arranha-céus acima e contemplo dos altos terraços o sono
esbranquiçado dos mortos. Vou com o teu corpo que me desgasta a memória doutros
corpos e me transforma em esquecimento… vou, vou sempre, pela humidade dos
cardos presos em tua boca.