domingo, 28 de junho de 2015

saudade
























as pétalas brotam 
das flores 

a minha saudade 
de ti























quinta-feira, 25 de junho de 2015

eu sei que não virás























Eu sei que não virás. O quarto
seria este, estes os meus braços, aquela
a jarra com as flores.
Que lindo cachecol. O colete fica-te bem.
Sabes o que é o amor? Poder e não poder
dizer o teu nome sem que me rebente
dentro do estômago, dos intestinos, dos pulmões
a faca de infecções de que poderei morrer.









Joaquim Manuel Magalhães





















segunda-feira, 22 de junho de 2015

Porque tudo se escreve com a tua letra






















Fala-se de amor para falar de muitas
coisas que entretanto nos sucedem.
Para falar do tempo, para falar do mundo
usamos o vocabulário preciso
que nos dá o amor.

Eu amo-te. Quer dizer: eu conheço melhor
as estradas que servem o meu território.
Quer dizer: eu estou mais acordado,
não me enredo nas silvas, não me enredo,
não me prendo nos cardos, não me prendo.

Quer também dizer: amar-te-ei
cada dia mais, estarei cada dia mais
acordado. Porque este amor não pára.

E para falar da morte; da enorme
definitiva irremediável morte,
do carro tombado na valeta
sacudindo uma última vez (fragilidade)
as rodas acendedoras de caminhos
- eu lembraria que o amor nos dá
uma forma difícil de coragem,
uma difícil, inteira possessão
de nós próprios, quando aveludada
a morte surge e nos reclama.

Porque eu amo-te, quer dizer, eu estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.

Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.


Fernando Assis Pacheco



























quinta-feira, 18 de junho de 2015

um grande amor

























Primeiro comete-se um erro. Convém escolher um erro de grande qualidade, dos crassos, mesmo. 
Depois mistura-se-lhe uma generosa quantidade de culpa e bate-se até formar uma massa de consistência uniforme.
De seguida, num recipiente separado, recria-se a causa de justificação do erro para atenuar a culpa. Junta-se tudo e acrescenta-se uma pitada de falta de imaginação.
Leva-se ao forno e obtém-se um grande amor. 
Deve servir-se gelado.







cuca, a pirata




















sexta-feira, 5 de junho de 2015

é o mar, meu amor




























É o mar, meu amor
na febre dos teus olhos

É o manso fascínio
da onda que se inventa

É o mar, meu amor
mestiço nos teus olhos

É o mirto, o queixume
a mansidão tão lenta

II

É o mar, meu amor
o lastro dos sentidos
que afogas nos olhos
sem nunca te afundares

É o mar, meu amor
que transportas nos olhos
e onde eu nado o tempo
sem nunca me encontrar








Maria Teresa Horta