Abro-te a porta do poema; e tu
espreitas para dentro da estrofe, onde
um espelho te espera.
Nuno Júdice
sexta-feira, 27 de março de 2015
E eu, eu todos os dias morro, ao fim da tarde.
É ao fim da tarde que morro. Agrada-me terminar negro contra o céu ensanguentado do ocaso. Ouvir a vida a estilhaçar-se no chão: tantos são os fragmentos que serei irreparável quando me encontrarem de cara mascarrada. Os olhos abertos na terra. Olhos inúteis, desde que roubaste as cores, quando te tornaste ausente. Porquê continuar a respirar quando me saqueias o azul? Eras tu que me pintavas, recordas-te? os sóis no olhar, em pinceladas de oiro líquido. De manhã, alongavas-te na tela da íris com mãos finas como filamentos rendilhando a luz. À noite oferendava-te as imagens da prata do rio, que amealhara para ti: assim as guardavas. Tudo distanciaste contigo, agora. E eu, eu todos os dias morro, ao fim da tarde.
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"Tragédia no Mar" é a denominação do feliz grupo escultórico de José João
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1930-2015
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cortem-me as veias dos pulsos pra que me saibam bem morto,
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um peso leve
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em...
Espaço : se alguém disser que morri...
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Robert & Shana Parkeharrison
*se alguém disser que morri, avança até à varanda do céu,*
*escuta a noite e recolhe o meu corpo da espuma dos planetas.*
*nã...
Muito obrigado pela menção.
ResponderEliminarUma Páscoa feliz.
Uma feliz Páscoa para si também. Continue a morrer ao fim de cada tarde e a renascer a cada manhã. ;)
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