Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Alberto Caeiro
Boa noite, Paula
ResponderEliminar(outro dia li algures que a sageza de Fernando Pessoa teria sido a sua extraordinária capacidade para se rodear de amigos -- Os Heterónimos -- para o definir.)
Este texto é brilhante por nele ser tão perfeita a definição e a vertigem do desejo e a sua contradição.
Há um cliché para os destroçados das paixões, para aqueles que não suportam ser trocados -- Casos há em que se tornam violentíssimos -- e que é: Nem contigo; nem sem ti.
Claro que FP supera isso tudo.
Houve alguém que superasse aquela ideia de ridículo numa carta à Ofélia evidenciando de imediato esse putativo ridículo acrescentando que só não o é quem não escrever cartas de amor?
Apenas mais outra perspectiva:
A da silhueta.
Essa imagem que ilustra o texto é eloquente.
A silhueta
A sombra
A nossa identidade
O Eu e o seu exterior.
Não acrescento mais nada.
Bjs
JPD, excelente análise. Fiquei com um sorriso nos lábios. Realmente, achei que a imagem se adequava, gosto de imagens que completem os poemas.
ResponderEliminarTenha uma boa noite, também.
Este comentário foi removido pelo autor.
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