terça-feira, 10 de julho de 2012

E tu não sabes




















Já não te amo como no primeiro dia. Já não te amo.

No entanto continuam em volta dos teus olhos, sempre, estas imensidades que rodeiam o olhar e esta existência que te anima no sono.

Continua também esta exaltação que me vem por não saber o que fazer disto, deste conhecimento que tenho dos teus olhos, das imensidades que os teus olhos exploram, por não saber o que escrever sobre isso, o que dizer, e o que mostrar da sua insignificância original. Disso, sei apenas o seguinte: que já não posso fazer nada a não ser suportar esta exaltação a propósito de alguém que estava ali, de alguém que não sabia que vivia e de quem eu não sabia que vivia, de alguém que não sabia viver dizia-te eu, e de mim que o sabia e que não sabia que fazer disso, desse conhecimento da vida que ele vivia, e que também não sabia que fazer de mim.

Dizem que o tempo do pleno verão já se anuncia, é possível. Não sei. Que as rosas já ali estão, no fundo do parque. Que às vezes não são vistas por ninguém durante o tempo da sua vida e que ficam assim ali no seu perfume esquartejadas durante alguns dias e que depois se deixam cair. Nunca vistas por esta mulher solitária que esquece. Nunca vistas por mim, morrem.

Estou num amor entre viver e morrer. É através desta ausência do teu sentimento que reencontro a tua qualidade, essa, precisamente, de me agradares. Penso que apenas me interessa que a vida não te deixe, outra coisa não, o desenvolvimento da tua vida deixa-me indiferente, não pode ensinar-me nada sobre ti, só pode tornar-me a morte mais próxima, mais admissível, sim, desejável. É assim que permaneces face a mim, na doçura, numa provocação constante, inocente, impenetrável.

E tu não sabes.

















marguerite duras






























8 comentários:

  1. que dizer?!? absolutamente enternecedor e comovente. beijo

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  2. Olá Paula. Pode informar-me o nome do livro da Marguerite Duras, donde retirou este excerto.
    Paulo P.

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  3. Paulo, tirei o texto da página do facebook do blogue poesia, mas pertence ao livro "O homem atlântico" de Marguerite Duras

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  4. Achei que seria Marguerite Duras, in Textos Secretos

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  5. Tenho esse excerto num livro dela que se chama " Textos Secretos "

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    1. Com certeza Jaime, como disse, li-o na pagina do facebook do blogue poesia, a pesquisa que fiz na internet encaminhou-me para O Homem Atlântico, mas não procurei nos livros que tenho dela.

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  6. Pina Bausch no Café Muller, das coisas mais bonitas que já vi (por 3 vezes), fica-lhe bem também a Duras

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