quarta-feira, 5 de maio de 2010

...eu sentia a pele a rasgar-se como trapos...























No primeiro dia que saí contigo
disseste que o teu trabalho era estranho.
Mais nada. Todavia, eu sentia
a pele a rasgar-se como trapos
de cada vez que me tocavas com a mão.
E os teus olhos pareciam-me punhais
a fazer-me doer os meus.
Daí para a frente foi sempre a mesma coisa:
tu orgulhavas-te da tua arte,
mais subtil e directo em cada dia
e eu nunca percebia nada.
Mas agora sei.
Já conheço o teu ofício:
Atirador de facas.
A mais certeira atiraste-ma ao coração.













Amalia Bautista










1 comentário:

  1. E gosto de vir aqui, e que me tenhas aqui... contigo... "basta-me que o teu olhar me encontre..."

    "Cada instante é um lugar perdido em que te entregas
    à passagem do tempo. A juventude é um vício
    que perdemos inevitavelmente. Dizes: é breve o amor,
    efémera a vida.

    Somos uma estância museológica,
    algo anacrónico que aprende a perdurar por medo
    de morrer. Toca-me, conjuga um verbo que conheças
    no presente do indicativo, soletra-o na segunda pessoa
    do singular ao meu ouvido, dá-me qualquer coisa
    que me pareça eterno.


    Basta-me que o teu olhar me encontre."

    José Rui Teixeira

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