sexta-feira, 14 de maio de 2010

porque as palavras certas estavam todas em histórias erradas
































Guarda-me adormecida para sempre no teu peito
ou deixa-me voar uma vez mais
sobre esta terra de ninguém
onde morro por qualquer coisa que me fale de ti.
Há noites assim em que o silêncio se transforma
ao de leve numa lâmina que minuciosamente
rasga o linho onde ficou esquecido
o corpo que habitamos
em provisórias madrugadas felizes...
Depois é só abrir os braços e acreditar
que ainda faltam muitas horas para a partida
e que à-toa pelos corredores ainda escorre
uma razão primeira a trazer-me de volta.
E eu adormecida para sempre no teu peito.
E eu acorrentada para sempre no teu peito.
E de novo entre nós aquele choro de quem
não teve tempo de preparar a despedida
com as palavras certas;
porque as palavras certas
estavam todas em histórias erradas
que outros escreveram em lugares nublados
que nem vale a pena tentar recompor.
Muito ao longe uma voz desgarrada
estabelece o fim do verão...
E eu adormecida para sempre no teu peito
e eu acorrentada para sempre no teu peito...








Alice Vieira
























2 comentários:

  1. Nos intervalos do trabalho leio-te, mesmo que as palavras não sejam tuas (ou serão?)... porque me fazes bem

    Vasco (teu)

    "Faltas-me. Se aqui estivesses isto não seriam
    palavras. Um trinco por dentro, essa ilusão
    de voltar a ti olhando os papéis, desconheço
    o que de mim resta quando as horas quase trazem
    o silêncio e a boca se abre, faz a passagem
    do teu corpo a um corpo que aproveita
    a substituição que não sabe. Mudaremos o tempo
    >para nenhuma exigência, faltas-me quando estás
    a caminho, já oiço os teus passos subindo
    no fundo da escada. Amanhece. Nos sonhos
    que não sou capaz de lembrar vens tocar-me
    nos ombros e dizer ainda não são horas, ainda
    não é alba. As palavras faltam-me, vou
    calar-me nas duas voltas da chave, este papel
    apagado, sujo da ausência dos teus gestos."

    Helder Moura Pereira,

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  2. se te lembras, as palavras são tuas, e hoje, nomeio do meu trabalho também, questiono-me porque me inundas de poemas?

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