segunda-feira, 23 de agosto de 2010

não saberei nunca dizer adeus


























 















Não saberei nunca
dizer adeus



Afinal,
só os mortos sabem morrer



Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser



Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo



Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos



Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca



Nenhuma palavra
alcança o mundo,
eu sei



Ainda assim,
escrevo















Mia Couto








imagem








 










2 comentários:

  1. tão belo e simples este poema... afinal África ainda canta assim

    ResponderEliminar
  2. quem escreve assim deve trazer os olhos cheios das planicies de áfrica, imagino eu.
    beleza, simplicidade, coerência, leveza, poesia...

    ResponderEliminar