domingo, 18 de setembro de 2011

(lembras-te?)



























Todas as palavras,


as que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração, e não reconheci,
ou desistiram e partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e substantivos de que
por um momento foi feito o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.





Manuel António Pina























6 comentários:

  1. obrigada João. boa semana para ti!

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  2. existem sempre essa luta entre dizer e não dizer,de arrependimento por não o ter feito..Uma coisa que aprendi foi que por vezes aquelas palavras que achamos tão importantes para serem ditas ,por vezes para a pessoa a que se destinam!São apenas palavras....Existem infelizmente pessoas que não sabem reconhecer a força das palavras que custam a dizer,,,bj..o teu blog me toca imenso..amo aqui.

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  3. é verdade Quim, ainda brm que gostas daqui. bj, boa segunda!

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