domingo, 10 de maio de 2015

a morte não será decerto mais estranha que a vida






















Chega ao fim do dia
a hora mais lenta, quando o céu
é vago e as luzes se acendem
no prédio da frente.

Vemo-los por vezes
dentro das janelas, vultos
delicados como miniaturas
ou meros reflexos que passam
nos vidros.

Alguns prosseguem encargos
de sombra, outros detêm-se
a olhar a rua, no gesto
a expressão do seu puro
enigma.

E são como provas
de coisa nenhuma. Se acaso
nos fitam, parecem dizer:
a morte não será decerto
mais estranha que a vida.







Rui Pires Cabral












1 comentário:

  1. Acho, até, que a vida é muito mais estranha do que a morte. A vida é "sentida".

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