sábado, 8 de maio de 2010

porque esperaste

























I

Passo a minha mão pela tua cabeça,
recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
Olhando-a como passa e vendo onde passou.

Quero tanto saber o que tu pensas.


II

O que tu pensas, mas apenas como,
e quando e o porquê, e não
que estejas pensando ou não que a minha mão,
atenta e recurvada, passa brandamente.

Quero saber aquilo que nem sabes.


III

Aquilo que nem sabes- como saberias
o que o pensar é antes de pensar-se?

A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
mas não na expectativa de arrepio prévio.

III

Por que esperaste, ciente, a pele da minha mão?










Jorge de Sena















1 comentário:

  1. "...Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.

    Queria de ti um minuto. Um minuto."

    Filipe Leal


    "Tu choravas e eu ia apagando
    com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
    - riscos na areia mole e quente do teu rosto.
    Choravas como quem se procura.
    E eu descobria mundos, inventava nomes,
    enquanto ia espremendo com as mãos
    o meu sangue todo no teu sangue.
    Não sei se o mundo existia e nós
    existiamos realmente.
    Sei que tudo estava suspenso,
    esperando não sei que grave acontecimento,
    e que milhares de insectos paravam e
    zumbiam nos meus sentidos.
    Só a minha boca era uma abelha inquieta
    percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
    Depois só dei pela manhã,
    a manhã atrevida,
    entrando devagar, muito devagar e
    acordando-me.
    Desviei os meus olhos para ti:
    ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
    A noite partira. E, lentamente,
    o sol rompeu no céu da tua boca."


    Albano Martins

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