quinta-feira, 10 de março de 2016

um rumor de espuma à roda do corpo






















Sei agora como nasceu a alegria,

como nasce o vento entre barcos de papel,

como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma

à roda do corpo que desperta,

sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,

um grito apertado nos dentes,

galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.

De coisas que te dou

para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.






Eugénio de Andrade



















4 comentários: