segunda-feira, 17 de maio de 2010

Seremos nós, tu e eu, as palavras?


























Recomecemos então, as mãos
palma com palma.
Diz, não digas, a palavra.
As palavras terão sentido ainda?
Haverá outro verão, outro mar
para as palavras?
Vão de vaga em vaga,
de vaga em vaga vão apagadas.
Seremos nós, tu e eu, as palavras?
Onde nos levam, neste crepúsculo,
assim palma a palma,
de mãos dadas?







Eugénio de Andrade 









1 comentário:

  1. "Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
    longas manhãs te esperei tremendo
    no patamar dos olhos. Que me importa
    que batam à porta, façam chegar
    jornais, ou cartas, de amizade um pouco
    - tanto pó sobre os móveis tua ausência.

    Se não és tu, que me pode importar?
    Alguém bate, insiste através da madeira,
    que me importa que batam à porta,
    a solidão é uma espinha
    insidiosamente alojada na garganta.
    Um pássaro morto no jardim com neve.

    Nada me importa; mas tu enfim me importas.
    Importa , por exemplo, no sedoso
    cabelo poisar estes lábios aflitos.
    Por exemplo: destruir o silêncio.
    Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
    Importa saber da importância
    que há na simplicidade final do amor.

    Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
    "Que me importa que batam à porta..."
    Sair de trás da própria porta, buscar
    no amor a reconciliação com o mundo.

    Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
    Ainda bem que esperei longas manhãs
    e lhes perdi a conta, pois é como se
    no dia em que eu abrir a porta
    do teu amor tudo seja novo,
    um homem uma mulher juntos pelas formosas
    inexplicáveis circunstâncias da vida.

    Que me importa, agora que me importas,
    que batam, se não és tu, à porta?"

    Fernando Assis Pacheco

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