quinta-feira, 13 de maio de 2010

Há palavras que nos beijam como se tivessem boca














Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.






alexandre o'neil
















1 comentário:

  1. "... e como um adolescente trpeço de ternura por ti"

    Vasco (teu)

    "Nos teus olhos altamente perigosos
    vigora ainda o mais rigoroso amor
    a luz de ombros puros e a sombra
    de uma angústia já purificada

    Não tu não podias ficar presa comigo
    à roda em que apodreço
    apodrecemos
    a esta pata ensanguentada que vacila
    quase medita
    e avança mugindo pelo túnel
    de uma velha dor

    Não podias ficar nesta cadeira
    onde passo o dia burocrático
    o dia-a-dia da miséria
    que sobe aos olhos vem às mãos
    aos sorrisos
    ao amor mal soletrado
    à estupidez ao desespero sem boca
    ao medo perfilado
    à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
    do modo funcionário de viver

    Não podias ficar nesta cama comigo
    em trânsito mortal até ao dia sórdido
    canino
    policial
    até ao dia que não vem da promessa
    puríssima da madrugada
    mas da miséria de uma noite gerada
    por um dia igual

    Não podias ficar presa comigo
    à pequena dor que cada um de nós
    traz docemente pela mão
    a esta pequena dor à portuguesa
    tão mansa quase vegetal

    Não tu não mereces esta cidade não mereces
    esta roda náusea em que giramos
    até à idiotia
    esta pequena morte
    e o seu minucioso e porco ritual
    esta nossa razão absurda de ser

    Não tu és da cidade aventureira
    da cidade onde o amor encontra as suas ruas
    e o cemitério ardente
    da sua morte
    tu és da cidade onde vives por um fio
    de puro acaso
    onde morres ou vives não de asfixia
    mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
    sem a moeda falsa do bem e do mal
    * * *
    Nesta curva tão terna e lancinante
    que vai ser já é o teu desaparecimento
    digo-te adeus
    e como um adolescente
    tropeço de ternura
    por ti."

    Alexandre O'Neill

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