quinta-feira, 6 de maio de 2010

as palavras que há dentro dos teus poemas
















fiz a minha casa aqui
tu sabes porquê



escolhi construí-la sobre um rochedo
não para que perdure
mas para que não desabe quando o vento soprar
e por aqui o vento sopra sempre



sabes que não te evito
trago os bolsos cheios dos teus poemas



quando era pequeno trazia nos bolsos
pedras que apanhava no caminho



os poemas são cheios de palavras por dentro
e as palavras que há nas pedras perduram ao vigor dos cinzéis
são como casas construídas sobre rochedos
falam de nós se na infância as levámos nos bolsos
falam de nós como se fossem poemas
e nós escutamos a sua voz
porque expomos as nossas mãos ao silêncio



as pedras estão cheias de silêncio por dentro
como se fossem poemas



as palavras habitam o coração do silêncio
e se eu não sei contar as palavras que há dentro dos teus poemas
como posso saber quantas habitam o coração do teu silêncio









José Rui Teixeira






















1 comentário:

  1. "Trago dentro do meu coração,
    Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
    Todos os lugares onde estive,
    Todos os portos a que cheguei,
    Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
    Ou de tombadilhos, sonhando,
    E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero...."

    Alvaro de Campos, Passagem das Horas (excerto)

    ... e eu sei, não te conheço... mas (sinto que) existes, e gosto de estar aqui, no teu espaço...

    "Eu sei, não te conheço mas existes.
    por isso os deuses não existem,
    a solidão não existe
    e apenas me dói a tua ausência
    como uma fogueira
    ou um grito.

    Não me perguntes como mas ainda me lembro
    quando no outono cresceram no teu peito
    duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos
    e perfumaram depois a minha boca.

    Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
    ao é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
    sobre a tua nudez
    como uma sombra no deserto.
    É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
    Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
    É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares
    Em todas as palavras do meu canto.

    Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
    tenho feito amor de muitas maneiras,
    docemente,
    lentamente
    desesperadamente
    à tua procura, sempre á tua procura
    até me dar conta que estás em mim,
    que em mim devo procurar-te,
    e tu apenas existes porque eu existo
    e eu não estou só contigo
    mas é contigo que eu quero ficar só
    porque é a ti,
    a ti que eu amo."


    Joaquim Pessoa

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