sexta-feira, 7 de maio de 2010

ouve-me















vai até onde ninguém te possa falar ou reconhecer



vai por esse campo de crateras extintas



vai por essa porta de água tão vasta quanto a noite deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te e as loucas aveias que o ácido enferrujou erguerem-se na vertigem do voo



deixa que o Outono traga os pássaros e as abelhas para pernoitarem na doçura do teu breve coração



ouve-me que o dia te seja limpo e para lá da pele constrói o arco de sala morada eterna



o mar por onde fugirá o etéreo visitante desta noite















Al berto















2 comentários:

  1. Pergunta-me
    se ainda és o meu fogo
    se acendes ainda
    o minuto de cinza
    se despertas
    a ave magoada
    que se queda
    na árvore do meu sangue

    Pergunta-me
    se o vento não traz nada
    se o vento tudo arrasta
    se na quietude do lago
    repousaram a fúria
    e o tropel de mil cavalos

    Pergunta-me
    se te voltei a encontrar
    de todas as vezes que me detive
    junto das pontes enevoadas
    e se eras tu
    quem eu via
    na infinita dispersão do meu ser
    se eras tu
    que reunias pedaços do meu poema
    reconstruindo
    a folha rasgada
    na minha mão descrente

    Qualquer coisa
    pergunta-me qualquer coisa
    uma tolice
    um mistério indecifrável
    simplesmente
    para que eu saiba
    que queres ainda saber
    para que mesmo sem te responder
    saibas o que te quero dizer


    Mia Couto

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  2. [uma tolice
    um mistério indecifrável]


    óptimas escolhas, as suas. já tinha editado este de mia couto.

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