sexta-feira, 27 de março de 2015

E eu, eu todos os dias morro, ao fim da tarde.
























É ao fim da tarde que morro. Agrada-me terminar negro contra o céu ensanguentado do ocaso. Ouvir a vida a estilhaçar-se no chão: tantos são os fragmentos que serei irreparável quando me encontrarem de cara mascarrada. Os olhos abertos na terra. Olhos inúteis, desde que roubaste as cores, quando te tornaste ausente. Porquê continuar a respirar quando me saqueias o azul? Eras tu que me pintavas, recordas-te? os sóis no olhar, em pinceladas de oiro líquido. De manhã, alongavas-te na tela da íris com mãos finas como filamentos rendilhando a luz. À noite oferendava-te as imagens da prata do rio, que amealhara para ti: assim as guardavas. Tudo distanciaste contigo, agora. E eu, eu todos os dias morro, ao fim da tarde.


















2 comentários:

  1. Muito obrigado pela menção.

    Uma Páscoa feliz.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Uma feliz Páscoa para si também. Continue a morrer ao fim de cada tarde e a renascer a cada manhã. ;)

      Eliminar