Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior que a minha:
o fio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos
que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar esta cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa
e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
Maria do Rosário Pedreira
E quais são os teus sonhos... fala-me dele, conta-mos.
ResponderEliminar"Sonharei, no teu seio calmo,
O sonho invisível do cego de nascença.
Dormirei, no teu cerrar de pálpebras,
Como um peixe desliza entre os ramos de árvore
Reflectidos na água.
Dormirei, nas tuas mãos pousadas no meu corpo,
O desejo de te acariciar sem perigo
- não vá tirar-te escamas, borboleta presa.
Dormirei, no teu sexo, a solidão do meu
Ao existir para que eu pense em ti.
Dormirei, na tua vida, a teimosia humana
De um sentido universal para as coisas connosco.
E se, depois, meu amor, formos estéreis,
Se a demora do tempo tiver tido um gesto abandonado,
E a morte, à nossa volta, um moleiro sem trigo,
O mundo que vier inveja-nos
E o nosso espírito há-de perdoar-nos."
Jorge de Sena
'adormeço contigo.
ResponderEliminara dor meço sem ti.'
João Gaspar
E eu vou adormecer... e deixo-te um beijo de boa noite (que provavelmente será de bom dia) e fico à espera que me contes dos teus sonhos, podes começar pelos mais pequenos e espero estar aqui, em ti, quando me quiseres contar os maiores :)
ResponderEliminare sem te tocar vives-me nas mãos...
Vasco (teu)
"emergir do sono em que estou
pairar sobre a fisionomia do fogo
e dar-te um nome de água
mergulhar em ti
e apanhar-te o fundo,
o beijo em apneia...
escavar os dias de chuva
ao encontro da sua nascente,
todas as forças são poucas
para te dar de beber...
(diluído na fantasia construo a obra de vidro,
é o derreter da areia sobre os meu passos
quando quero propor-te o orvalho da noite
onde o acromo passado morrerá após o sono.)
nomear-te para os sonhos de papel
fertilizando o ciclamor
e em cada vermelhar cordiforme, abalar
o medo dos nocturnos corredores
onde as aranhas se recolhem no silêncio.
sem te tocar
vives-me nas mãos."
Nelson D'Aires
Pide tres deseos:
ResponderEliminarVer el alba contigo,
ver contigo la noche,
y ver de novo el alba
en la luz de tus ojos.
Amalia Bautista
e mais,
ResponderEliminar'Uma mão quente.
Uma casa quente.
Um pullover quente
para cobrir meus pensamentos gelados.
Um corpo quente
para cobrir o meu corpo.
Uma alma quente
para cobrir a minha alma.
Uma vida quente
para cobrir a minha vida gelada.
Sonia Åkesson
Só um desejo: diz-me qual é a ponte
ResponderEliminarVasco (teu)
"…diz-me qual a ponte
que separa a tua vida da minha,
em que hora negra, em que cidade chuvosa,
em que mundo sem luz está essa ponte
e eu a cruzarei…"
Amalia Bautista
Vasco não. Victor. O maior profissional do engate nos blogs . Tão sensivel e delicado o filho da mae. Andamos sempre a esbarrar com ele :(
ResponderEliminarcurioso, não é a primeira vez que alguém escreve isso aqui, sempre sob anonimato. mas olhe, esse vasco ou victor, passou por aqui, deixou poemas, desapareceu e não deixou mossa, nem me parece que tenha engatado coisa nenhuma.
Eliminar...guardo e aguardo...
ResponderEliminare chegam, sempre, todas as noites...
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