terça-feira, 23 de junho de 2020

dói-me esse rio de já me não amares












E dói-me esse rio de já me não amares
de já me não quereres assim como eu te quero
de não sobressaltares porque sou eu que te espero
em esquinas de lágrima ou sorriso
foi-se o amor chegou o siso
e eu
que não nasci para ter juízo

E dói-me o teu ventre que não afago
como quem depois de amanhã se afoga
e hoje apenas está, dê para o que der
e doa a quem doer

Passam sanguessugas pelos trilhos da memória
umas são mortas, outras são vivas,
outras são glória
de já não existir e teimar em persistir
e eu vou ao vento, sou palmeira seca,
sou teimoso sou frágil sou de teca de cetim
sou uns dias teu, outros assim assim

E dói-me o teu ventre que não afago
como quem depois de amanhã se afoga
e hoje apenas sente, e já pouco quer
para além de seres mulher

E sei que já não sinto o que senti nem sei quem sou
mas seja eu quem for fazes-me falta, ainda és música
perdi a pauta, nada sei cantar, acho que esta conversa
é coça umbigo, vai ter que parar

Mas dói-me o teu ventre que não afago
como quem não sabe nadar
e hoje é de festa, amanhã é de mar
é de mar





Manuel Cintra










10 comentários:

  1. Poema encantador. Como é bom ler inspirada poesia. Gostei muito deste "" dói-me esse rio de já não me amares "".
    .
    Um dia feliz
    Saudações poéticas

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  2. Bela homenagem ao poeta Cintra, com uma bonita escolha (o que é normal em ti, Ana...).

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  3. Que bom verificar que ainda se cultiva a poesia na blogosfera, que julgara deserto sem gente e palavras só arrumadas, amontoadas já sem ordem pelo tempo, com aquela coisa do facebook. Também fui resistindo, nunca deixei de publicar no meu blog.
    Venho cá, aqui tem muita poesia, um interessante acervo. Bem haja!

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