sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

guardar um rio

















 




É tão difícil guardar um rio
quando ele corre
dentro de nós.











 
Jorge de Sousa Braga in "O Poeta Nu"
































quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

palabras


















20 años de estar juntos
esta tarde se han cumplido
para ti flores, perfumes
para mi, algunos libros
No te he dicho grandes cosas
porque no me habrian salido
ya sabes cosas de viejos
requemor de no haber sido.
Hace tiempo que intentamos
abonar nuestro destino
tu bajabas la persiana
yo apuraba mi ultimo vino.
Hoy en esta noche fria
casi como ignorando el sabor
del la soledad compartida
quise hacerte una cancion
para cantar despacito
como se duerme a los niños
y ya ves,solo palabras
sobre notas me han salido
que al igual que tu y que yo
ni se importan ni se estorban
se soportan amistosas.
mas no son una cancion
que helada esta casa !
sera que esta cerca el rio
o es que estamos en invierno
y estan llegando,estan llegando...
los frios.
20 años de estar juntos
esta tarde se han cumplido





































segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Acontece na vida de toda a gente



















 












 


Acontece na vida de toda a gente. De repente, a porta que se fechou entreabre-se, a grade que se acabou de descer volta a erguer-se, o não definitivo já não é senão um talvez, o mundo transfigura-se, um sangue novo corre-nos nas veias. É a esperança. Pena suspensa. O veredicto de um juiz, de um médico, de um cônsul fica adiado. Uma voz anuncia-nos que nem tudo está perdido. Trémulos, com lágrimas de gratidão nos olhos, passamos para o aposento seguinte, onde nos pedem para esperarmos, antes de nos lançarem no abismo.








 
Nina Berberova, Terra de Ninguém

























quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

desprender

















 






Há uma bala-pétala dentro de cada corpo
o desprender contínuo da essência
que traça pelo espaço o inacessível caminho









Maria José Botelho




















terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Preciso urgentemente









 





 
Preciso urgentemente de adquirir meia dúzia de valores absolutos,
inexpugnáveis e impenetráveis,
firmes e surdos como rochedos.

Preciso urgentemente de adquirir certezas,
certezas inabaláveis, imensas certezas, montes de certezas,
certezas a propósito de tudo e de nada,
afirmadas com autoridade, em voz alta para que todos oiçam,
com desassombro, com ênfase, com dignidade,
acompanhadas de perfurantes censuras no olhar carregado, oblíquo
(...)





excerto de antonio gedeão















sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

tanto que fazer










 







 

«Tanto que fazer!
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis…
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.
E os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos,
nem para quê »





cecilia meireles






quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

senão para escrever












 









«Trago-te debaixo da minha pele. Apanhaste-me desprevenido. Atingiste-me o coração, pecado meu. E agora é tarde para tudo senão para escrever. O teu coração tão branco a bater perto de mim. Embora o não ouvisse sei que estava lá.»






pedro paixão in ladrão de fogo










segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Nunca são as coisas mais simples que aparecem





















Nunca são as coisas mais simples que aparecem
quando as esperamos. O que é mais simples,
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se
encontra no curso previsível da vida. Porém, se
nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras. Nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora
no teu ombro, forçando uma aproximação
dos lábios.




nuno judice











quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

a olhar o que os braços não alcançam

























Minha querida, as tulipas vermelhas que deixaste sobre a mesa estão a morrer, a perder a cor. A casa está vazia, inundada de silêncios. Espero que estejas a fazer as malas para vires. Mas podes chegar sem malas, despida por fora ou por dentro. Gosto de ti com caracóis e sem caracóis. De chapéu e sem chapéu. Adoro sobretudo a maneira como dizes o meu nome que só a ti pertence. Não gosto nada de ti quando és má. Tu só és feia para me recordares a tua exímia perfeição, o contorno das tuas ancas violentas. Para poder ainda gostar mais. Minha miúda pequena, vem. Os passeios junto ao rio sem ti não são os mesmos. Faltam os demorados passos, as súbitas paragens. É por isso que estou quieto, a minha inteligência pousada sobre as mãos a olhar o que os braços não alcançam. Vou ficar assim até tu chegares, tapando-me a vista com o fogo dos teus dedos, a cicatriz aberta a meio do corpo.










pedro paixão, mensagem in o mundo é tudo o que acontece