domingo, 20 de janeiro de 2013

não partas












Se partires, não me abraces – a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.


Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces –


o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém – longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.







Maria do Rosário Pedreira


















2 comentários:

  1. ´o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder`

    demasiado bonito e doloroso (cmo este blog em muitos dos meus dias)...

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    1. obrigada Carlos, espero que menos doloroso em muitos dos seus dias

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