domingo, 16 de maio de 2010

as pequenas feridas escondidas















 
























 






Não voltarei a esse corpo; e não sei
se aqueles que o vestiram antes e depois
de mim souberam nele o verdadeiro calor
e lhe conheceram os perigos, os labirintos,
as pequenas feridas escondidas. Não voltarei
provavelmente a sentir a respiração
palpitante desse corpo, desse lugar onde as ondas
rebentavam sempre crespas junto do peito, do meu peito
também, às vezes.

Uma noite outro corpo virá lembrar essa maresia,
o cheiro do alecrim bruscamente arrancado à falésia.
E eu ficarei de vigília para ter a certeza de quem me
recolheu,
porque os cheiros tornam os lugares parecidos, confundíveis.

Quando a manhã me deixar de novo sozinha no meu quarto
trocarei os lençóis da cama por outros, mais limpos.










Maria do Rosário Pedreira


















1 comentário:

  1. Queres uma mão? Para ajudar com essas feridas escondidas?

    "Recomecemos então, as mãos
    palma com palma.
    Diz, não digas, a palavra.
    As palavras terão sentido ainda?
    Haverá outro verão, outro mar
    para as palavras?
    Vão de vaga em vaga,
    de vaga em vaga vão apagadas.
    Seremos nós, tu e eu, as palavras?
    Onde nos levam, neste crepúsculo,
    assim palma a palma,
    de mãos dadas?"

    Eugénio de Andrade

    ResponderEliminar