segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ainda bem que esperei longas manhãs










Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
- tanto pó sobre os móveis tua ausência.



Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.



Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa , por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.



Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
"Que me importa que batam à porta..."
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.



Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.



Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?





Fernando Assis Pacheco










1 comentário:

  1. Eu estou quase de saida, esta semana trabalho de noite... um beijo
    Vasco (teu)

    "Venho dormir junto de ti
    e o meu corpo é uma coisa diferente
    do que se vê ou toca ou sente;
    é, fora de mim, essa coluna de ar onde respiro,
    olhos que beijam o teu corpo exacto,
    as muitas mãos que dobram o teu rosto.
    Um deus que dorme, um deus que dança, e mais
    que um mero deus, o breve amor do tempo."

    António Franco Alexandre

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