terça-feira, 18 de maio de 2010

Ainda que meus labirintos te confundam


































Deixa-me amar-te em meus silêncios
Na calmaria do teu coração que me acolhe
E de onde se desprendem meus sonhos
Em vôos etéreos de plena liberdade

Deixa-me amar-te em minha solidão
Ainda que meus labirintos te confundam
E que teus fios generosos de compreensão
Emaranhem-se no tapete dos meus enigmas

Deixa-me amar-te sem qualquer explicação
Na ternura das tuas mãos que me sorriem
Escrevendo desejos em versos despidos
Na minha alva tez que te cobre e descobre

Deixa-me amar-te em meus segredos
Para que desvendes o que também desconheço
A alma dos meus abismos onde anoiteço
E meus olhos adormecem embalados pelo mistério

Deixa-me amar-te em tuas demoras, longas horas
Em que meu corpo se veste de céu à tua espera
E minhas mãos em frenesi acendem estrelas
Para alumiar-te, ainda que ausente estejas...









Fernanda Guimarães













1 comentário:

  1. A meio de uma noite espectacular de verão irrompo pelo teu son(h)o e sussurro-te ao ouvido uma boa noite
    Vasco (teu)

    "Nosso amor é impuro
    como impura é a luz e a água
    e tudo quanto nasce
    e vive além do tempo.

    Minhas pernas são água,
    as tuas são luz
    e dão a volta ao universo
    quando se enlaçam
    até se tornarem deserto e escuro
    E eu sofro de te abraçar
    depois de te abraçar para não sofrer.

    E toco-te
    para deixares de ter corpo
    e o meu corpo nasce
    quando se extingue no teu.

    E respiro em tipara me sufocar
    e espreito em tua claridade
    para me cegar,
    meu Sol vertido em Lua,
    minha noite alvorecida.

    Tu me bebes
    e eu me converto na tua sede.
    Meus lábios mordem,
    meus dentes beijam,
    minha pele te veste
    e ficas ainda despida.

    Pudesse eu ser tu
    e em tua saudade ser a minha própria espera.

    Mas eu deito-me em teu leito
    quando apenas queria dormir em ti.

    E sonho-te
    quando ansiava ser um sonho teu.

    E levito, voo de semente,
    para em mim mesmo te plantar
    menos que flor: simples perfume,
    lembrança de pétala sem chão onde tombar.

    Teus olhos inundando os meus
    e a minha vida, já sem leito,vai galgando margens
    até tudo ser mar.
    Esse mar que só há depois do mar."

    Mia Couto

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