domingo, 9 de maio de 2010

quanto mais as páginas folheio






























Leio-te: — o pranto dos meus olhos rola:
— Do seu cabelo o delicado cheiro,
Da sua voz o timbre prazenteiro,
Tudo do livro sinto que se evola ...



Todo o nosso romance: - a doce esmola
Do seu primeiro olhar, o seu primeiro
Sorriso, - neste poema verdadeiro,
Tudo ao meu triste olhar se desenrola.



Sinto animar-se todo o meu passado:
E quanto mais as páginas folheio,
Mais vejo em tudo aquele vulto amado.



Ouço junto de mim bater-lhe o seio,
E cuido vê-Ia, plácida, a meu lado,
Lendo comigo a página que leio.









Olavo Bilac

























4 comentários:

  1. Hoje sou eu que não estou nos meus dias, mas apeteceu-me deixar (te) um beijo... eterno

    "Quero um beijo sem fim,
    Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
    Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
    Beija-me assim!
    O ouvido fecha ao rumor
    Do mundo, e beija-me, querida!
    Vive só para mim, só para a minha vida,
    Só para o meu amor!

    Fora, repouse em paz
    Dormida em calmo sono a calma natureza,
    Ou se debata, das tormentas presa, -
    Beija inda mais!
    E, enquanto o brando calor
    Sinto em meu peito de teu seio,
    Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
    Com o mesmo ardente amor!

    De arrebol a arrebol,
    Vão-se os dias sem conto! e as noites, como os dias,
    Sem conto vão-se, cálidas ou frias!
    Rutile o sol
    Esplêndido e abrasador!
    No alto as estrelas coruscantes,
    Tauxiando os largos céus, brilhem como diamantes!
    Brilhe aqui dentro o amor!

    Suceda a treva à luz!
    Vele a noite de crepe a curva do horizonte;
    Em véus de opala a madrugada aponte
    Nos céus azuis,
    E Vênus, como uma flor,
    Brilhe, a sorrir, do ocaso à porta,
    Brilhe à porta do Oriente! A treva e a luz - que importa?
    Só nos importa o amor!

    Raive o sol no Verão!
    Venha o Outono! do Inverno os frígidos vapores
    Toldem o céu! das aves e das flores
    Venha a estação!
    Que nos importa o esplendor
    Da primavera, e o firmamento
    Limpo, e o sol cintilante, e a neve, e a chuva, e o vento?
    - Beijemo-nos, amor!

    Beijemo-nos! que o mar
    Nossos beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!
    E cante o sol! a ave desperte e cante!
    Cante o luar,
    Cheio de um novo fulgor!
    Cante a amplidão! cante a floresta!
    E a natureza toda, em delirante festa,
    Cante, cante este amor!

    Rasgue-se, à noite, o véu
    Das neblinas, e o vento inquira o monte e o vale:
    "Quem canta assim?" E uma áurea estrela fale
    Do alto do céu
    Ao mar, presa de pavor:
    "Que agitação estranha é aquela?"
    E o mar adoce a voz, e à curiosa estrela
    Responda que é o amor!

    E a ave, ao sol da manhã,
    Também, a asa vibrando, à estrela que palpita
    Responda, ao vê-la desmaiada e aflita:
    "Que beijo, irmã! Pudesses ver com que ardor
    Eles se beijam loucamente!"
    E inveje-nos a estrela... - e apague o olhar dormente,

    Morta, morta de amor!..

    Diz tua boca: "Vem!"
    "Inda mais!", diz a minha, a soluçar... Exclama
    Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
    "Morde também!"
    Ai! morde! que doce é a dor
    Que me entra as carnes, e as tortura!
    Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
    Morto por teu amor!

    Quero um beijo sem fim,
    Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
    Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
    Beija-me assim!
    O ouvido fecha ao rumor
    Do mundo, e beija-me, querida!
    Vive só para mim, só para a minha vida,
    Só para o meu amor!"

    Olavo Bilac

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  2. «Foste o beijo melhor da minha vida,
    ou talvez o pior...Glória e tormento,
    contigo à luz subi do firmamento,
    contigo fui pela infernal descida!

    Morreste, e o meu desejo não te olvida:
    queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
    e do teu gosto amargo me alimento,
    e rolo-te na boca malferida.

    Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
    batismo e extrema-unção, naquele instante
    por que, feliz, eu não morri contigo?

    Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
    beijo divino! e anseio delirante,
    na perpétua saudade de um minuto.»


    olavo bilac, jornalista e poeta brasileiro, nasceu em 1865 e morreu em 1918.

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  3. Vim buscar energia...
    Nada como Olavo Bilac, nada como você a filtrar seus melhores dos melhores.



    |@.
    boa quartinha.

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  4. obrigada epee, embora eu saiba que a energia que sai daqui, de mim, nem sempre é positiva.

    boa quarta para ti, vou tentar que seja boa para mim tambem.

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