Mesmo da poesia, que iluminava o tempo, vais colhendo apenas a amargura; os outros procuram nela sinais de um destino, datas curiosas, zangas, ventanias, armadilhas, mas tu sabes - e só tu sabes - que a tua vida é a tua vida e que o poema é empurrado por outro sopro, por um reflexo, um medo brutal, pela memória dos que morreram e levaram uma parte de ti, um pouco do que havia de comum entre ti e a vida, esse desperdício - às vezes -, esses momentos de glória em dias felizes.
Envelheces com os ossos que envelhecem. Envelheces sem querer.Por ti serias eternamente jovem, adolescente, e percorrerias as estradas das serras, as florestas, não para viveres sempre, mas para estares vivo mais um instante, porque o espectáculo é belo uma vez por outra. Envelheces pouco a pouco, porque as coisas não são o que foram nem são o que são.
Francisco José Viegas, Se me comovesse o amor
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