quinta-feira, 21 de julho de 2011

é tão fácil























é tão fácil amar lugares
que não existem


recordar praças e pontes e travessas
onde nunca morremos por ninguém


quartos na penumbra de estores corridos
sobre a sonolência dos gatos em agosto
onde nunca chegámos atrasados


o tampo de mármore de mesas de café
onde as nossas mãos não se esconderam
por alguém ter entrado antes de nós


é tão fácil lembrar nomes e rostos e destinos
e colocá-los em nossos ombros e festejar com eles
as luminosas horas em que a vida
nos rodeava a cintura como um amante possessivo
e nós repetíamos o nome das cidades
onde nada disso tinha acontecido


é tão fácil assim
dizer adeus
sabendo que deus nem sequer assiste
à despedida






Alice Vieira








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