quarta-feira, 12 de junho de 2013

escuta como se aproxima o próximo poema
















É tarde, falta aprender a deitar fora a madeira da alma, 
a não contaminar os animais com o vírus 
das metáforas sombrias. Falta talvez ser tarde, 
mas o homem expulsou-se do paraíso 
e cresceram-lhe orelhas para escutar a morte. 
Como pode olhar de frente o rosto da criança, 
com que sol se senta ao sol das maravilhas? 
Fala comigo um pouco mais. Ainda há passos 
que não demos, há trilhos que os ciganos deixaram 
para nós, há migalhas de pão pelos caminhos 
e talvez seja a hora de fazer com elas umas migas, 
de pedir ao mágico que tire do chapéu um vinho 
graduado, um coronel meio surdo a quem Alice 
perguntará as horas ou o capuchinho chamará «avó». 
Antes de sermos definitivamente comidos pelo lobo 
escuta como se aproxima o próximo poema.



Rosa Alice Branco





2 comentários:

  1. Volta até mim no silêncio da noite
    a tua voz que eu amo, e as tuas palavras
    que eu não esqueço. Volta até mim
    para que a tua ausência não embacie
    o vidro da memória, nem o transforme
    no espelho baço dos meus olhos. Volta
    com os teus lábios cujo beijo sonhei num estuário
    vestido com a mortalha da névoa; e traz
    contigo a maré da manhã com que
    todos os náufragos sonharam


    Nuno Júdice


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  2. obrigada V. não tinha, agora tenho :)

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