domingo, 29 de novembro de 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

o mundo não me agrada




















Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece...

Clarice Lispector

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

uma vontade grande







trinta cisnes no lago dos teus olhos. foi o que disse. não significa nada. não poderiam aí nadar. foi uma imagem. uma ideia. uma vontade grande de dizer que te amo e que vejo em ti tudo quanto sendo impossível faria da vida um lugar perfeito

Give me a reason to love you








I'm so tired, of playing
Playing with this bow and arrow
Gonna give my heart away
Leave it to the other girls to play
For I've been a temptress too long


Just. .


Give me a reason to love you
Give me a reason to be ee, a woman
I just wanna be a woman


From this time, unchained
We're all looking at a different picture
Thru this new frame of mind
A thousand flowers could bloom
Move over, and give us some room


Give me a reason to love you
Give me a reason to be ee, a woman
I just wanna be a woman




So don't you stop, being a man
Just take a little look from our side when you can
Sow a little tenderness
No matter if you cry


Give me a reason to love you
Give me a reason to be ee, a woman
Its all I wanna be is all woman


For this is the beginning of forever and ever


Its time to move over... ...



terça-feira, 24 de novembro de 2009

simples






















...
escondo-me atrás de coisas simples,
para que me encontres.
Se não me encontrares, encontrarás as coisas,
tocarás o que minha mão já tocou,
os traços juntar-se-ão de nossas mãos,
uma na outra.
...


excerto de poema de Yannis Ritsos, trad de Eugénio de Andrade

foto daqui


















domingo, 22 de novembro de 2009

e a vida segue










mesmo que quisesse








[Para ti, que existes nos meus vazios. tantas e tantas vezes.]


Para escrever-te não preciso de quase nada.
Basta-me entender que és essencialmente o vazio.
Entender que, tal como as casas,
Também nós nos vamos construindo.


E os tijolos pesados, tantas vezes.


Os tijolos a ferir-nos as mãos,
Os tijolos a cair nos pés como grilhetas,
Os tijolos como palavras atiradas para o meio do caminho,


Os tijolos. Pesados.
Como as palavras.
Tantas vezes dispensáveis, tantas vezes inúteis.
Como quando apareceste.
As palavras a fugir-me por entre os dedos das mãos,
A deambular na inocência de um olhar que se perde, que se perde sempre.


E da vida, ficam apenas os vazios.
Os espaços onde nenhuma palavra consegue entrar.
Os espaço onde nenhuma palavra poderia entrar.


- Mesmo que quisesse?
- Mesmo que quisesse.


Isa Mestre

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Eu não te esperava









“Chegaste. Eu não te esperava. Contigo trouxeste a ternura, o desejo e, mais tarde o medo. Chegaste e eu não conhecia essa ternura, esse desejo. Em casa, no meu quarto, neste quarto, revi os teus olhos na memória, a ternura, o desejo. E, depois, aquilo que eu sabia, o medo. E passou tempo. Eu e tu sentimos esse tempo a passar mas, quando nos encontramos de novo, soubemos que não nos tínhamos separado”


José Luís Peixoto

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

sempre cinco






na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco


José luís Peixoto

Déjame que te acompañe





Quién se va,
quién se queda,
a quién le duele más la soledad
a quién le duele más la soledad
si todos los rincones de mi vida tienen algo tuyo.


Cuál es tu camino?
Cuál es el mió?
Dónde se encontraron,
dónde salía.
Anda, deja que te acompañe que no es momento de andar sola.


Con lo pequeño que es el tiempo,
quién recogerá el perdido.
Si tu me cuidas, yo me curo.
Mi cura es tu compañía.
Deja que te cuide la hada,
tu hada.
Anda, deja que te acompañe que no es momento de andar sola.


Mis cinco sentidos son para ti,
mi tiempo para ti,
mi mano para sujetarte a ti,
y mi alegría para que la bebas toda tú.


Anda, deja que te acompañe que no es momento de andar sola.


Déjame que te acompañe.






bebe

domingo, 15 de novembro de 2009

A vida faz-nos carícias, às vezes














Passei a tarde sentada numa bancada de uma piscina, tentando adivinhar gestos, trejeitos, posturas. Lendo de longe rostos, o rosto do meu filho. Sofrendo com as suas desilusões, cansando-me do seu cansaço. Coisas de sangue, coisas de mim.
Enquanto isso a quilómetros de distância, Tiago, pintava para mim. Pintou-me o pensamento, perplexidades, deslumbramento e a jangada onde exausta repouso. Hoje.



sábado, 14 de novembro de 2009

Abraço


















De repente deu vontade de te dar um abraço...
Uma vontade de entrelaço, de proximidade.
de amizade..sei lá..
Talvez um aconchego que enfatize a vida e
amenize as dores...
Que fale sobre os amores,
que seja teimoso e ao mesmo tempo forte.
Deu vontade de poder rever saudade
de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo
e preencha todo espaço
mas que faça lembrar do carinho,
que surge devagarzinho
da magia da união dos corpos, das auras..sei lá..
Lembrar do calor das mãos
acariciando as costas
a dizer..
"estou aqui."
Lembrar do trançar dos braços envolventes e seguros afirmando
"estou com você"..
Lembrar da transfusão de forças
com a suavidade do momento ..sei lá..
abraço...abraço...abraço...
abraço...abraço..abraço...
abraço...abraço...abraço...
O que importa é a magia deste abraço!
A fusão de energia que harmoniza,
integra tudo, e que se traduz
no cosmo, no tempo e no espaço.
Só sei que agora deu vontade desse abraço!!
Que afaste toda e qualquer angústia.
Que desperte a lágrima da alegria,
e acalme o coração..
Que traduza a amizade, o amor e a emoção.
E para um abraço assim só pude pensar em você....
nessa sua energia,
nessa sua sensibilidade
que sabe entender o por quê...
dessa vontade desse abraço.





Vinicius de Moraes











sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Paga-me um café e conto-te a minha vida








«Paga-me um café e conto-te
a minha vida»

o inverno avançava
nessa tarde em que te ouvi
assaltado por dores
o céu quebrava-se aos disparos
de uma criança muito assustada
que corria
o vento batia-lhe no rosto com violência
a infância inteira
disso me lembro


outra noite cortaste o sono da casa
com frio e medo
apagavas cigarros nas palmas das mãos
e os que te viam choravam
mas tu ,não,nunca choraste
por amores que se perdem


os naufrágios são belos
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas ,acreditas?
E temos saudades desse mar
que derruba primeiro no nosso corpo
tudo o que seremos depois


«pago-te um café se me contares
o teu amor»


a saudade voa



quarta-feira, 11 de novembro de 2009

pouco importa






« (...) existe um momento
pouco importa qual
em que se reúnem ao acaso
diante de nós
todas as condições de uma vida
desesperada

José Tolentino Mendonça

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sabe bem ter-te por perto







Sabe bem ter-te por perto
Sabe bem tudo tão certo
Sabe bem quando te espero
Sabe bem beber quem quero



Quase que não chegava
A tempo de me deliciar
Quase que não chegava
A horas de te abraçar
Quase que não recebia
A prenda prometida
Quase que não devia
Existir tal companhia



Não me lembras o céu
Nem nada que se pareça
Não me lembras a lua
Nem nada que se escureça
Se um dia me sinto nua
Tomara que a terra estremeça
Que a minha boca na tua
Eu confesso não sai da cabeça



Se um beijo é quase perfeito
Perdidos num rio sem leito
Que dirá se o tempo nos der
O tempo a que temos direito



Se um dia um anjo fizer
A seta bater-te no peito
Se um dia o diabo quiser
Faremos o crime perfeito

miguel a. majer







Donna Maria

sábado, 7 de novembro de 2009

Julgava eu que era a maneira mais segura de te prender a mim














«Eu não parava de falar. Narrava minúcias biográficas, lembrava teoremas de geometria, dizia-te os nomes das árvores. Eu queria dizer-te tudo. Tudo o que sabia e tinha aprendido durante anos talvez ainda servisse para alguma coisa. Julgava eu que era a maneira mais segura de te prender a mim porque uma coisa pede outra, uma palavra pede outra palavra, uma história outra história, um fim outro fim. E enquanto não terminasse tu ias querer saber o resto.»

pedro paixão







quarta-feira, 4 de novembro de 2009

milagre da oralidade









Obcecado pela linguagem escrita, monólogo gráfico esperançado apenas na réplica mental de hipotéticos leitores, quase que me esquecera de reparar no milagre da oralidade, da comunicação directa, franca, livre, sem ambições quiméricas de antologia e perenidade. A palavra temperada pelo sal da boca, arredondada pela graça labial, ágil ou morosa consoante a urgência da oração, e sempre ajudada pela presença e atenção dos ouvintes. A repetição permitida, e até desejada em certos momentos, o gesto a sublinhar e a fortalecer a intenção, os próprios silêncios a colaborar na significação e clareza do discurso.



segunda-feira, 2 de novembro de 2009