sábado, 7 de novembro de 2009

Julgava eu que era a maneira mais segura de te prender a mim














«Eu não parava de falar. Narrava minúcias biográficas, lembrava teoremas de geometria, dizia-te os nomes das árvores. Eu queria dizer-te tudo. Tudo o que sabia e tinha aprendido durante anos talvez ainda servisse para alguma coisa. Julgava eu que era a maneira mais segura de te prender a mim porque uma coisa pede outra, uma palavra pede outra palavra, uma história outra história, um fim outro fim. E enquanto não terminasse tu ias querer saber o resto.»

pedro paixão







1 comentário:

  1. E quero saber o resto... quero saber o que pensas... o que sentes... como sentes...saber aquilo que nem sabes

    "I

    Passo a minha mão pela tua cabeça,
    recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
    Olhando-a como passa e vendo onde passou.

    Quero tanto saber o que tu pensas.


    II

    O que tu pensas, mas apenas como,
    e quando e o porquê, e não
    que estejas pensando ou não que a minha mão,
    atenta e recurvada, passa brandamente.

    Quero saber aquilo que nem sabes.


    III

    Aquilo que nem sabes- como saberias
    o que o pensar é antes de pensar-se?

    A mão que pousa e vai passar atenta.
    O olhar que espera ver passar o gesto.
    A tácita lembrança de volver os olhos.
    A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
    ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
    mas não na expectativa de arrepio prévio.

    III

    Por que esperaste, ciente, a pele da minha mão?"


    Jorge de Sena

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