«Eu não parava de falar. Narrava minúcias biográficas, lembrava teoremas de geometria, dizia-te os nomes das árvores. Eu queria dizer-te tudo. Tudo o que sabia e tinha aprendido durante anos talvez ainda servisse para alguma coisa. Julgava eu que era a maneira mais segura de te prender a mim porque uma coisa pede outra, uma palavra pede outra palavra, uma história outra história, um fim outro fim. E enquanto não terminasse tu ias querer saber o resto.»
pedro paixão
E quero saber o resto... quero saber o que pensas... o que sentes... como sentes...saber aquilo que nem sabes
ResponderEliminar"I
Passo a minha mão pela tua cabeça,
recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
Olhando-a como passa e vendo onde passou.
Quero tanto saber o que tu pensas.
II
O que tu pensas, mas apenas como,
e quando e o porquê, e não
que estejas pensando ou não que a minha mão,
atenta e recurvada, passa brandamente.
Quero saber aquilo que nem sabes.
III
Aquilo que nem sabes- como saberias
o que o pensar é antes de pensar-se?
A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
mas não na expectativa de arrepio prévio.
III
Por que esperaste, ciente, a pele da minha mão?"
Jorge de Sena