sexta-feira, 7 de maio de 2010

digo baixinho












Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar.
Medito no meu regresso.
Possuo para sempre tudo o que perdi.
E uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada. Penso em ti.
Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto – aqui sentado, junto à janela fechada.
Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo.
Recolho o mel, guardo a alegria, e digo baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge.











Al Berto in «Lunário»





1 comentário:

  1. E em que pensar agora senão em ti? Que gosto?... Até ao fim do mundo que me deste?...

    Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que
    me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
    manhã da minha noite. É verdade que te podia
    Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
    não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
    apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
    a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
    até sermos um apenas no amor que nos une,
    contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
    ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
    voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
    ele que mal corria quando por ele passámos,
    subindo a margem em que descobri o sentido
    de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
    que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
    de chegar antes de ti para te ver chegar: com
    a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
    fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
    a primavera luminosa da minha expectativa,
    a mais certa certeza de que gosto de ti, como
    gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.


    Nuno Júdice

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