terça-feira, 18 de maio de 2010

nesta página que escrevo para nunca te esquecer



















Vem aos meus sonhos,
faz em mim a tua casa.

Planta, em frente, a cerejeira dos
pássaros brancos,
deixa que eles pousem nos ramos e cantem
eternamente,
deixa que nas suas asas de luz eu leia o meu
nome,
antes de os relâmpagos acenderem os prados.

Vem aos meus sonhos,
vê os labirintos por onde me perco,
vê os meus países do mar,
vê, em cada barco que parte do meu coração,
as viagens que não fiz,
os amores que não tive,
a lua cruel da minha solidão.

Vem aos meus sonhos,
traz um fio de água para as dálias do meu
quarto vazio,
não queiras que as suas pétalas sequem muito
depressa,
caindo pelos delicados muros de cristal,
apagando a cor que dava vida aos aposentos do
solitário.

Deixa que ele evoque a secreta doçura das
colmeias,
e vem,
vem aos meus sonhos,
ilumina o meu domingo de cinzas, o meu
domingo de ramos, o meu calvário,

diz que estás aqui,
nesta página que escrevo para nunca te esquecer.




do José Agostinho Baptista







2 comentários:

  1. E corro o risco de repetir poemas, deveria ter escrito quais os que já te tinha mandado :)
    E bom dia, para mim é bom dia

    "estive tão longe de ti
    que não pensei sequer lembrar o teu nome
    percorri distâncias escuras, estradas imóveis
    onde circulava o peso sem cor do esquecimento
    e se curvavam as pedras à boca do destino

    a solidão assustava-me, queimava-me a pele
    quero dizer-te que não mais vi ternura
    que os meus pés ganharam idade a um ritmo
    que não pude conter, acompanhar, escrever-te

    sim, fiz-me não te escrever
    para que o teu corpo não ouvisse o vento
    e as ondas fossem quebrar ao centro dos oceanos
    para que uma palavra não pousasse no teu rosto
    e levasse a luz dos teus olhos e a vida nos teus lábios

    arranquei de mim a morada que eras tu
    desisti dos pássaros, afundei barcos, lâminas.
    apaguei o calor dos porões como se uma vela
    pudesse perigosamente insistir na permanência
    desse mundo que era a minha voz, éramos nós

    estive tão longe de ti
    mas deixa que agora te nomeie entre as nuvens
    e traga para dentro de mim
    o aroma que era o teu corpo nas manhãs a dois
    deixa que venha morrer junto de ti
    no ventre do amor que prometemos ao infinito"

    Vasco Gato

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  2. corre o risco

    ainda não te repetiste.

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