E ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
Deixas viver sobre a pele uma criança de lume
E na fria lava da noite ensinas ao corpo
A paciência o amor o abandono das palavras
O silêncio
E a difícil arte da melancolia
Al Berto
Abro-te a porta do poema; e tu espreitas para dentro da estrofe, onde um espelho te espera. Nuno Júdice
Hoje estou muito virado (ainda mais) para os afectos e as ternuras :)
ResponderEliminar"Tudo renegarei menos o afecto
e trago um ceptro e uma coroa,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser rei efémero
desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixa-me reinar sobre ti
o tempo apenas de um relâmpago
e incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num êxtase de lábios sobre a relva,
num delírio de beijos sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e não sabia, sabes,
que há um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante."
José Jorge Letria
hoje, 'o tempo apenas de um relâmpago'.
ResponderEliminarDeixa-me reinar em ti mesmo que seja só esse tempo :) (e se tiver que montar guarda que seja em redor do teu sono)
ResponderEliminarVasco (teu)
"Tinhas a pele arrepiada pelo sentimento. Os olhos rasos de contentamento. A vida trazias nas mãos abertas. E o fruto do nosso encontro era uma alma cheia de presente, sem medo do futuro e sem necessidade de olhar o passado.
Querias-me assim como eu te queria. Eternamente. Que era o mesmo que dizer, enquanto durasse. O nosso eterno era o momento, pleno, e não havia promessas feitas ao entardecer. O que dávamos estava em todos os gestos, em todos os olhares, no encontrar dos corpos. Nada de planos para o futuro, nada de palavras vãs para encher o vazio. Não existia o vazio.
Mas quando olhávamos para nós sentimo-nos cheios de mais. A sonhar o que não podíamos ter uma vida inteira. Não acreditávamos que a vida se desse assim, como uma fruta fresca em pleno verão.Estranho o destino humano. Tudo o que é bom demais faz-nos afastar, evitar. Nem sequer tocamos com o medo de estragar. Para que nada mude, não chegamos a viver tudo o que se oferece aos nossos olhos. E partimos antes mesmo de chegar."
Ana Teresa Silva