quarta-feira, 19 de maio de 2010

ao anoitecer


























E ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
Deixas viver sobre a pele uma criança de lume
E na fria lava da noite ensinas ao corpo
A paciência o amor o abandono das palavras
O silêncio
E a difícil arte da melancolia








Al Berto











3 comentários:

  1. Hoje estou muito virado (ainda mais) para os afectos e as ternuras :)

    "Tudo renegarei menos o afecto
    e trago um ceptro e uma coroa,
    o primeiro de ferro, a segunda de urze,
    para ser rei efémero
    desse amor único e breve
    que se dilui em partidas
    e se fragmenta em perguntas
    iguais às das amantes
    que a claridade atordoa e converte.
    Deixa-me reinar sobre ti
    o tempo apenas de um relâmpago
    e incendiar a erva seca dos cumes.
    E se tiver que montar guarda,
    que seja em redor do teu sono,
    num êxtase de lábios sobre a relva,
    num delírio de beijos sobre o ventre,
    num assombro de dedos sob a roupa.
    Eu estava morto e não sabia, sabes,
    que há um tempo dentro deste tempo
    para renascermos com os corais
    e sermos eternos na sofreguidão de um instante."

    José Jorge Letria

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  2. hoje, 'o tempo apenas de um relâmpago'.

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  3. Deixa-me reinar em ti mesmo que seja só esse tempo :) (e se tiver que montar guarda que seja em redor do teu sono)

    Vasco (teu)

    "Tinhas a pele arrepiada pelo sentimento. Os olhos rasos de contentamento. A vida trazias nas mãos abertas. E o fruto do nosso encontro era uma alma cheia de presente, sem medo do futuro e sem necessidade de olhar o passado.
    Querias-me assim como eu te queria. Eternamente. Que era o mesmo que dizer, enquanto durasse. O nosso eterno era o momento, pleno, e não havia promessas feitas ao entardecer. O que dávamos estava em todos os gestos, em todos os olhares, no encontrar dos corpos. Nada de planos para o futuro, nada de palavras vãs para encher o vazio. Não existia o vazio.
    Mas quando olhávamos para nós sentimo-nos cheios de mais. A sonhar o que não podíamos ter uma vida inteira. Não acreditávamos que a vida se desse assim, como uma fruta fresca em pleno verão.Estranho o destino humano. Tudo o que é bom demais faz-nos afastar, evitar. Nem sequer tocamos com o medo de estragar. Para que nada mude, não chegamos a viver tudo o que se oferece aos nossos olhos. E partimos antes mesmo de chegar."

    Ana Teresa Silva

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