Pudesse eu morrer hoje como tu me morreste nessa noite –
e deitar-me na terra; e não ouvir senão o rumor das ervas
e o canto do vento nos ciprestes; e não ter medo das sombras,
nem das aves negras nos meus braços de mármore,
nem de te ter perdido – não ter medo de nada. Pudesse
eu fechar os olhos neste instante e esquecer-me de tudo –
das tuas mãos tão frias quando estendi as minhas nessa noite;
de não teres dito a única palavra que me faria salvar-te, mesmo
deixando que eu perguntasse tudo; de teres insultado a vida
e chamado pela morte para me mostrares que o teu corpo
já tinha desistido, que ias matar-te em mim e que era tarde
para eu pensar em devolver-te os dias que roubara. Pudesse
eu cair num sono gelado como o teu e deixar de sentir a dor,
a dor incomparável de te ver acordado em tudo o que escrevi –
porque foi pelo poema que me amaste, o poema foi sempre
o que valeu a pena (o mais eram os gestos que não cabiam
nas mãos); e pudesse eu deixar de escrever esta manhã
e pudesse eu morrer
mas ouço-te a respirar no meu poema.
Maria Rosário Pedreira
Perfeito como sempre...bj..boa semana.
ResponderEliminaradjudicado! ;)
ResponderEliminarobrigada Quim, boa semana. bj
ResponderEliminaradjudicando então jl ;)
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