quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Fala-me tu do Amor




«Fala-me tu do Amor e dessa coisa esquisita que é o tempo com quatro dedos de distância entre o ardor das línguas e a asfixia dos corpos.
Fala-me tu do Amor e desse desejo que arrasta a proximidade que anula todos os intervalos em pequenas existências que de tão insignificantes desaparecem numa doçura e amargura.
Conta-me do constante faz e refaz, de ressuscitar e morrer, de adormecer e sonhar, do conforto da luz dos dias na realidade que nos mata. Porque do Amor também se morre e também se vive, como alimentação programada às calorias necessárias para respondermos.
Encostarei a cabeça para que te ouça falar da grande cidade, cheia de perigos, que não amedrontam porque de um se protege o outro e dois são uma muralha maravilhosa em que existe a gratidão de ser ele e ela, e toda a gente e mais ninguém que esteja em sombra.
(...)»
Al berto

6 comentários:

  1. Alguém me fale de Amor...please


    Intenso e bonito este Al Berto

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  2. ouvi os "santos e pacadores" falar de amor. obrigado Paula :)

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  3. Há quem diga que o amor é um rapazinho,
    E quem diga que ele é um pássaro;
    Há quem diga que faz o mundo girar,
    E quem diga que é um absurdo,
    E quando perguntei ao meu vizinho,
    Que tinha ar de quem sabia,
    A sua mulher zangou-se mesmo muito,
    E disse que isso não servia para nada.

    Será parecido com uns pijamas,
    Ou com o presunto num hotel de abstinência?
    O seu odor faz lembrar o dos lamas,
    Ou tem um cheiro agradável?
    É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
    Ou é fofo como um edredão de penas?
    É cortante ou muito polido nos seus bordos?
    Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

    Os nossos livros de história fazem-lhe referências
    Em curtas notas crípticas,
    É um assunto de conversa muito vulgar
    Nos transatlânticos;
    Descobri que o assunto era mencionado
    Em relatos de suicidas,
    E até o vi escrevinhado
    Nas costas dos guias ferroviários.

    Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
    Ou ribomba como uma banda militar?
    Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
    Com um serrote ou um Steinway de concerto?
    O seu canto é estrondoso nas festas?
    Ou gosta apenas de música clássica?
    Interrompe-se quando queremos estar sossegados?
    Ah! diz-me a verdade acerca do amor.

    Espreitei a casa de verão,
    E não estava lá,
    Tentei o Tamisa em Maidenhead
    E o ar tonificante de Brighton,
    Não sei o que cantava o melro,
    Ou o que a tulipa dizia;
    Mas não estava na capoeira,
    Nem debaixo da cama.

    Fará esgares extraordinários?
    Enjoa sempre num baloiço?
    Passa todo o seu tempo nas corridas?
    Ou a tocar violino em pedaços de cordel?
    Tem ideias próprias sobre o dinheiro?
    Pensa ser o patriotismo suficiente?
    As suas histórias são vulgares mas divertidas?
    Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

    Chega sem avisar no instante
    Em que meto o dedo no nariz?
    Virá bater-me à porta de manhã,
    Ou pisar-me os pés no autocarro?
    Virá como uma súbita mudança de tempo?
    O seu acolhimento será rude ou delicado?
    Virá alterar toda a minha vida?
    Ah, diz-me a verdade acerca do amor.


    W.H. Auden

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  4. Boa semana Epee, música nas palavras...nas imagens, também ouvi...

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