terça-feira, 11 de maio de 2010

anda


































Não me diga ao que vens
Deixa-me adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou.

É longe a tua casa?
Dou-te a minha:

leio nos teus olhos o cansaço do dia que te venceu; e, no teu rosto, as sombras contam-me o resto da viagem.



Anda,


vem repousar os martírios da estrada
nas curvas do meu corpo — é um
destino sem dor e sem memória. Tens



sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja — morde-a na minha
boca sem pedires. Não, não me digas
quem és nem ao que vens.
Decido eu









Maria do Rosário Pedreira






















1 comentário:

  1. Vou... e quero fazer contigo
    o que a primavera faz com as cerejeiras.



    "Brincas todos os dias com a luz do universo.
    Subtil visitadora, chegas na flor e na água.
    És mais do que a pequena cabeça branca que aperto
    Como um cacho entre as mãos todos os dias.

    Com ninguém te pareces desde que eu te amo.
    Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
    Quem escreve o teu nome com letras de fumo entre as estrelas
    do sul?
    Ah deixa-me lembrar como eras então, quando ainda existias.

    Subitamente o vento uiva e bate à janela fechada.
    O céu é uma rede coalhada de peixes sombrios.
    Aqui vêm soprar todos os ventos, todos.
    Aqui despe-se a chuva.

    Passam fugindo os pássaros.
    O vento. O vento.
    Eu só posso lutar contra a força dos homens.
    O temporal amontoa folhas escuras
    E solta todos os barcos que esta noite amarraram o céu.

    Tu estás aqui. Ah tu não foges.
    Tu responder-me-ás até ao último grito.
    Enrola-te a meu lado como se tivesses medo.
    Porém mais que uma vez correu uma sombra estranha pelos teus olhos.

    Agora, agora também, pequena, trazes-me madressilva,
    E tens até seios perfumados.
    Enquanto o vento triste galopa matando borboletas
    Eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.

    O que te haverá doído acostumares-te a mim,
    À minha alma selvagem e só, ao meu nome que todos escorraçam.
    Vimos arder tantas vezes a estrela-d’alva beijando-nos os olhos
    E sobre as nossas cabeças destorceram-se os crepúsculos em leques
    Rodopiantes.

    As minhas palavras choveram sobre ti acariciando-te.
    Amei desde há que tempo o teu corpo de nácar moreno.
    Creio-te mesmo dona do universo.
    Vim trazer-te das montanhas flores alegres «copihues»,
    Avelãs escuras, e cestos silvestres de beijos.

    Quero fazer contigo
    O que a primavera faz com as cerejeiras. Brincas todos os dias com a luz do universo.
    Subtil visitadora, chegas na flor e na água.
    És mais do que a pequena cabeça branca que aperto
    Como um cacho entre as mãos todos os dias.

    Com ninguém te pareces desde que eu te amo.
    Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
    Quem escreve o teu nome com letras de fumo entre as estrelas
    do sul?
    Ah deixa-me lembrar como eras então, quando ainda existias.

    Subitamente o vento uiva e bate à janela fechada.
    O céu é uma rede coalhada de peixes sombrios.
    Aqui vêm soprar todos os ventos, todos.
    Aqui despe-se a chuva.

    Passam fugindo os pássaros.
    O vento. O vento.
    Eu só posso lutar contra a força dos homens.
    O temporal amontoa folhas escuras
    E solta todos os barcos que esta noite amarraram o céu.

    Tu estás aqui. Ah tu não foges.
    Tu responder-me-ás até ao último grito.
    Enrola-te a meu lado como se tivesses medo.
    Porém mais que uma vez correu uma sombra estranha pelos teus olhos.

    Agora, agora também, pequena, trazes-me madressilva,
    E tens até seios perfumados.
    Enquanto o vento triste galopa matando borboletas
    Eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.

    O que te haverá doído acostumares-te a mim,
    À minha alma selvagem e só, ao meu nome que todos escorraçam.
    Vimos arder tantas vezes a estrela-d’alva beijando-nos os olhos
    E sobre as nossas cabeças destorceram-se os crepúsculos em leques
    Rodopiantes.

    As minhas palavras choveram sobre ti acariciando-te.
    Amei desde há que tempo o teu corpo de nácar moreno.
    Creio-te mesmo dona do universo.
    Vim trazer-te das montanhas flores alegres «copihues»,
    Avelãs escuras, e cestos silvestres de beijos.

    Quero fazer contigo
    O que a primavera faz com as cerejeiras."

    Pablo Neruda

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