Não me diga ao que vens
Deixa-me adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou.
É longe a tua casa?
Dou-te a minha:
leio nos teus olhos o cansaço do dia que te venceu; e, no teu rosto, as sombras contam-me o resto da viagem.
Deixa-me adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou.
É longe a tua casa?
Dou-te a minha:
leio nos teus olhos o cansaço do dia que te venceu; e, no teu rosto, as sombras contam-me o resto da viagem.
Anda,
vem repousar os martírios da estrada
nas curvas do meu corpo — é um
destino sem dor e sem memória. Tens
sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja — morde-a na minha
boca sem pedires. Não, não me digas
quem és nem ao que vens.
Decido eu
Decido eu
Maria do Rosário Pedreira
Vou... e quero fazer contigo
ResponderEliminaro que a primavera faz com as cerejeiras.
"Brincas todos os dias com a luz do universo.
Subtil visitadora, chegas na flor e na água.
És mais do que a pequena cabeça branca que aperto
Como um cacho entre as mãos todos os dias.
Com ninguém te pareces desde que eu te amo.
Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
Quem escreve o teu nome com letras de fumo entre as estrelas
do sul?
Ah deixa-me lembrar como eras então, quando ainda existias.
Subitamente o vento uiva e bate à janela fechada.
O céu é uma rede coalhada de peixes sombrios.
Aqui vêm soprar todos os ventos, todos.
Aqui despe-se a chuva.
Passam fugindo os pássaros.
O vento. O vento.
Eu só posso lutar contra a força dos homens.
O temporal amontoa folhas escuras
E solta todos os barcos que esta noite amarraram o céu.
Tu estás aqui. Ah tu não foges.
Tu responder-me-ás até ao último grito.
Enrola-te a meu lado como se tivesses medo.
Porém mais que uma vez correu uma sombra estranha pelos teus olhos.
Agora, agora também, pequena, trazes-me madressilva,
E tens até seios perfumados.
Enquanto o vento triste galopa matando borboletas
Eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.
O que te haverá doído acostumares-te a mim,
À minha alma selvagem e só, ao meu nome que todos escorraçam.
Vimos arder tantas vezes a estrela-d’alva beijando-nos os olhos
E sobre as nossas cabeças destorceram-se os crepúsculos em leques
Rodopiantes.
As minhas palavras choveram sobre ti acariciando-te.
Amei desde há que tempo o teu corpo de nácar moreno.
Creio-te mesmo dona do universo.
Vim trazer-te das montanhas flores alegres «copihues»,
Avelãs escuras, e cestos silvestres de beijos.
Quero fazer contigo
O que a primavera faz com as cerejeiras. Brincas todos os dias com a luz do universo.
Subtil visitadora, chegas na flor e na água.
És mais do que a pequena cabeça branca que aperto
Como um cacho entre as mãos todos os dias.
Com ninguém te pareces desde que eu te amo.
Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
Quem escreve o teu nome com letras de fumo entre as estrelas
do sul?
Ah deixa-me lembrar como eras então, quando ainda existias.
Subitamente o vento uiva e bate à janela fechada.
O céu é uma rede coalhada de peixes sombrios.
Aqui vêm soprar todos os ventos, todos.
Aqui despe-se a chuva.
Passam fugindo os pássaros.
O vento. O vento.
Eu só posso lutar contra a força dos homens.
O temporal amontoa folhas escuras
E solta todos os barcos que esta noite amarraram o céu.
Tu estás aqui. Ah tu não foges.
Tu responder-me-ás até ao último grito.
Enrola-te a meu lado como se tivesses medo.
Porém mais que uma vez correu uma sombra estranha pelos teus olhos.
Agora, agora também, pequena, trazes-me madressilva,
E tens até seios perfumados.
Enquanto o vento triste galopa matando borboletas
Eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.
O que te haverá doído acostumares-te a mim,
À minha alma selvagem e só, ao meu nome que todos escorraçam.
Vimos arder tantas vezes a estrela-d’alva beijando-nos os olhos
E sobre as nossas cabeças destorceram-se os crepúsculos em leques
Rodopiantes.
As minhas palavras choveram sobre ti acariciando-te.
Amei desde há que tempo o teu corpo de nácar moreno.
Creio-te mesmo dona do universo.
Vim trazer-te das montanhas flores alegres «copihues»,
Avelãs escuras, e cestos silvestres de beijos.
Quero fazer contigo
O que a primavera faz com as cerejeiras."
Pablo Neruda