De onde me chegam estas palavras?
Nunca houve palavras para gritar a tua ausência
Apenas o coração
Pulsando a solidão antes de ti
Quando o teu rosto dóia no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais
que um lugar escondido onde a primavera
refaz o seu vestido de corolas.
E não havia um nome para a tua ausência.
Mas tu vieste.
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?
Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
acendes todas as fogueiras
escreves todas as palavras.
Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.
Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta
por onde caminhas nua.
Joaquim Pessoa
Um dia bom para ti, que eu vou trabalhar, cheio de sono...
ResponderEliminarVasco (teu)
"Hoje podes deitar-te na minha cama
e contar-me mentiras - dizer, não sei,
que o amor tem a forma da minha mão
ou que os meus beijos são perguntas que
não queres que ninguém te faça senão
eu; que as flores bordadas na dobra do
meu lençol são de jardins perfeitos que
antes só existiam nos teus sonhos; e que
na curva dos meus braços as horas são
mais pequenas do que uma voz que no
escuro se apagasse. Hoje podes rasgar
cidades no mapa do meu corpo e
inventar que descobriste um continente
novo - uma pátria solar onde gostavas
de morrer e ter nascido. Eu não me
importo com nada do que me digas esta
noite: amo-te, e amar-te é reconhecer o
pólen excessivo das corolas, o seu vermelho
impossível. Mas amanhã, antes de partires,
não digas nada, não me beijes nas costas
do meu sono. Leva-me contigo para sempre
ou deixa-me dormir - eu não quero ser
apenas um nome deitado entre outros nomes."
Maria do Rosário Pedreira
bom dia de trabalho para ti, vasco.
ResponderEliminara silvia da pastelaria onde compro o pão perguntava-me um dia destes - a que horas pega ao trabalho? - e eu, apanhada de surpresa, nunca mo tinham perguntado, disse-lhe - eu acho que não despego :)
é, eu acho que estou sempre 'pegada' a alguma coisa.
deixa-me ir.
Eu estou sempre (a)pegado a tanta coisa :)
ResponderEliminarMas em relação a trabalho tenho horários, embora seja por turnos e com folgas variáveis. As outras coisas que me apegam, e são imensas, é que não têm horário... ler é uma delas e de vez em quando encontro qualquer coisa que me apetece partilhar contigo (também é um apego, um recente)
Vasco (teu)
"Claro que se tem medo que alguém nos entre pelos olhos.
Mas podes arder. Para a tua temperatura sou mercúrio,
linhas de mão, lábio e sopro. Atravesso-te porque
me atravessas e onde somos corsários rendemo-nos ao encanto da devolução.
Tu e eu à porta de um lugar que vai fechar tudo numa árvore.
Aqui onde os minutos são a rua em que nos sentamos toda
a tarde à espera do silêncio, onde o teu corpo pesa a medida exacta do meu desejo.
Sou um animal. Necessito diariamente da transfusão de uma
enorme quantidade de calor. Tocas-me?"
Vasco Gato