segunda-feira, 24 de maio de 2010

fica

























Fica ao menos o tempo de um cigarro, evita
comigo que este tempo ande. Lá fora estão as
casas, vive gente perto do candeeiro, o som
que nos chega apagado pela distância só
denuncia o nosso silêncio interrompido.
Ajuda-me, faremos o inventário das coisas
que quisemos fazer e não fizemos, mágoas
que deixámos esquecidas entre o ruído das
cidades. Fica, não te aproximes, nenhum
dia é menos sombrio, quando anoitecer vamos
ver as árvores caminhando cercando a casa.








Hélder Moura Pereira









7 comentários:

  1. "Vem ver-me antes que morra de amor – o sangue
    arrefece dentro do meu corpo e as rosas desbotam
    nas minhas mãos. Da minha cama ouço a tempestade
    nos continentes; e já quis partir, deixar que o vento
    levasse a minha mala por aí; fiz planos de correr mundo
    para te esquecer – mas nunca abria a porta.

    Vem ver-me enquanto não morro, mas vem de noite –
    a luz sublinha a agonia de um rosto e quero que me recordes
    como eu podia ter sido. Da minha cama vejo o sol
    tatuar as costas do meu país; e já sonhei que o perseguia,
    que desenhava o teu nome no veludo da areia e sentia
    a vida a pulsar nessa palavra como o músculo tenso
    escondido sob a pele – mas depois acordava e não ia.

    Vem ver-me antes que morra, mas vem depressa –
    os livros resvalam-me do colo e o bolor avança
    sobre a roupa. Da minha cama sinto o perfume das folhas
    tombadas nos caminhos. O Outono chegou. E o quarto
    ficou tão frio de repente. E tu sem vires. Agora
    quero deitar-me no tapete de musgo do jardim e ouvir
    bater o coração da terra no meu peito. Os vermes
    alimentam-se dos sonhos de quem morre. E tu não vens."

    Maria do Rosário Pedreira

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  2. Se partires, não me abraces – a falésia que se encosta
    uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
    e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

    Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
    das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
    mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
    porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
    a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces –

    o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
    nos dias sem ninguém – longe de ti, o corpo não faz
    senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
    as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
    espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
    Se me abraçares, não partas.

    Maria do Rosário Pedreira

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  3. "Nesta brisa quase suave
    de plantas já anoitecidas
    quase te toco entre as regas,
    e entristeço.
    A tua ausência é tão real
    como os vastos campos de girassóis
    secos, envelhecidos, quase mortos.
    Alugo a voz e a expressão
    a par de todos os espaços
    deste lugar que se inicia.
    Tudo isto é simples:
    tenho o coração desarrumado.


    Vem."


    Filipa Leal

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  4. tudo o que me dás eu te devolvo:

    "E de novo a armadilha dos abraços.

    E de novo o enredo das delícias.

    O rouco da garganta, os pés descalços

    a pele alucinada de carícias.

    As preces, os segredos, as risadas

    no altar esplendoroso das ofertas.

    De novo beijo a beijo as madrugadas

    de novo seio a seio as descobertas.

    Alcandorada no teu corpo imenso

    teço um colar de gritos e silêncios

    a ecoar no som dos precipícios.

    E tudo o que me dás eu te devolvo.

    E fazemos de novo, sempre novo

    o amor total dos deuses e dos bichos."

    Rosa Lobato de Faria

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  5. É perigoso dizeres uma coisa dessas, porque me sinto tentado a dar mais... muito mais. Para (te) ter assim também :)
    Vasco (teu)

    "e eu tivesse as sedas bordadas do céu.
    Com bainhas de luz de ouro e de prata.
    As sedas azuis e sombrias e escuras.
    Da noite e da luz e da meia-luz.
    Deitava-as todas aos teus pés.

    Mas eu sou pobre e só tenho os meus sonhos.
    Deitei-os todos aos teus pés
    Pisa com cuidado,
    É nos meus sonhos que estás a pisar."


    W. B. Yeats

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  6. ouço a chuva cair lá fora, adivinho-lhe o cheiro na terra seca ao fim de tantos dias de tanto calor. uma pinga no corrimão da varanda ecoa e faz-me companhia. o são joão já foi anunciado aqui na vila com o som dos ranchos e fogo de artifício. vai ser daqui a um mês, nem preciso de confirmar no calendário.
    dorme bem, amanhã também eu acordo cedo, mais uma vez.


    Amo o caminho que estendes por dentro das minhas divisões.
    Ignoro se um pássaro morto continua o seu voo
    Se se recorda dos movimentos migratórios
    E das estações.
    Mas não me importo de adoecer no teu colo
    De dormir ao relento entre as tuas mãos.



    Daniel Faria

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  7. Eu continuo a acordar cedo, mas ainda não vou para a cama, tenho algumas coisas ainda para fazer. Por aqui não choveu.E já se anuncia também o Sto António se bem que não me parece que o vá comemorar, não gosto muito de multidões pelas ruas.
    E pelos vistos vais continuar-me a ter ao acordar :)

    Vasco (teu)

    "O espelho enche-se com a tua
    imagem; e queria tirá-lo da tua
    mão, e levá-lo comigo, para
    que o teu rosto me acompanhe
    onde quer que eu vá.

    Mas sem ti, o espelho
    fica vazio; e ao olhá-lo, vejo
    apenas o lugar onde estiveste, e
    os olhos que os meus olhos procuram
    quando não sei onde estás.

    Por que não fechas os olhos
    para que o espelho te prenda, e
    outros olhos te possam guardar,
    para sempre, sem que tenham de olhar,
    no espelho, o rosto que eu procuro?"

    Nuno Júdice

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