domingo, 23 de maio de 2010

estive tão longe de ti




































estive tão longe de ti
que não pensei sequer lembrar o teu nome
percorri distâncias escuras, estradas imóveis
onde circulava o peso sem cor do esquecimento
e se curvavam as pedras à boca do destino



a solidão assustava-me, queimava-me a pele
quero dizer-te que não mais vi ternura
que os meus pés ganharam idade a um ritmo
que não pude conter, acompanhar, escrever-te



sim, fiz-me não te escrever
para que o teu corpo não ouvisse o vento
e as ondas fossem quebrar ao centro dos oceanos
para que uma palavra não pousasse no teu rosto
e levasse a luz dos teus olhos e a vida nos teus lábios



arranquei de mim a morada que eras tu
desisti dos pássaros, afundei barcos, lâminas.
apaguei o calor dos porões como se uma vela
pudesse perigosamente insistir na permanência
desse mundo que era a minha voz, éramos nós



estive tão longe de ti
mas deixa que agora te nomeie entre as nuvens
e traga para dentro de mim
o aroma que era o teu corpo nas manhãs a dois
deixa que venha morrer junto de ti
no ventre do amor que prometemos ao infinito













Vasco Gato

 










3 comentários:

  1. Como foi o teu fim de semana?

    "...
    esquece as ruas. os teus
    caminhos estão em
    mim.
    ...

    se te alheares, visito-te por
    dentro de mim e juro
    não acordar enquanto
    não vieres pedir desculpa.
    ..."


    Valter Hugo Mãe

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  2. passou-se, cansativo mas pacifico. ah! e quente, muito calor por cá, pelo norte.

    'Deste-me a tua mão, ...
    e na única forma que tem de acompanhar-te
    o meu coração bate'

    José Tolentino Mendonça

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  3. Pelo sul também. Calor demais, quando o calor é em demasia não gosto muito... ainda por cima longe do mar :)

    "Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão.
    puxaste-me para os teus olhos
    transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
    ainda apanhámos o crepúsculo.
    As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
    diferente inundava a cidade. Sentei-me
    nos degraus, do cais, em silêncio.
    Lembro-me do som dos teus passos,
    uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
    e a tua figura luminosa atravessando a praça
    até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
    o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
    continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
    essa doente sensação que
    me deixaste como amada
    recordação."



    Nuno Judice

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