Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, acordarei entre os teus braços, a tua pele será talvez demasiado bela e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor. Um dia, quando a chuva secar na memória, quando o Inverno for tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela, sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar a perfeição da felicidade.
José Luis Peixoto
E hoje não dormi muito boa... será porque me povoaste os sentidos? :)
ResponderEliminar"Dormi contigo a noite inteira
junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras
entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos sonos
se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos
que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas
que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu
e pelo mar escuro
me procurava como antes,
quando nem existias,
quando sem te enxergar
naveguei a teu lado e teus olhos
buscavam o que agora
- pão, vinho, amor e cólera - te dou,
cheias as mãos, porque tu és a taça
que só esperava os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira
com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra
meu braço rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho
puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei,
e tua boca saída de teu sono
me deu o sabor da terra,de água-marinha,
de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar
que nos rodeia. "
Pablo Neruda