quinta-feira, 20 de maio de 2010

...quando a ternura for a única regra da manhã





























Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, acordarei entre os teus braços, a tua pele será talvez demasiado bela e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor. Um dia, quando a chuva secar na memória, quando o Inverno for tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela, sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar a perfeição da felicidade.










José Luis Peixoto














1 comentário:

  1. E hoje não dormi muito boa... será porque me povoaste os sentidos? :)

    "Dormi contigo a noite inteira
    junto do mar, na ilha.
    Selvagem e doce eras
    entre o prazer e o sono,
    entre o fogo e a água.


    Talvez bem tarde nossos sonos
    se uniram na altura e no fundo,
    em cima como ramos
    que um mesmo vento move,
    embaixo como raízes vermelhas
    que se tocam.


    Talvez teu sono se separou do meu
    e pelo mar escuro
    me procurava como antes,
    quando nem existias,
    quando sem te enxergar
    naveguei a teu lado e teus olhos
    buscavam o que agora
    - pão, vinho, amor e cólera - te dou,
    cheias as mãos, porque tu és a taça
    que só esperava os dons da minha vida.


    Dormi junto contigo a noite inteira,
    enquanto a escura terra gira
    com vivos e com mortos,
    de repente desperto e no meio da sombra
    meu braço rodeava tua cintura.
    Nem a noite nem o sonho
    puderam separar-nos.

    Dormi contigo, amor, despertei,
    e tua boca saída de teu sono
    me deu o sabor da terra,de água-marinha,
    de algas, de tua íntima vida,
    e recebi teu beijo molhado pela aurora
    como se me chegasse do mar
    que nos rodeia. "




    Pablo Neruda

    ResponderEliminar