segunda-feira, 10 de maio de 2010

Sei que tudo estava suspenso



































Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
- riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.
Não sei se o mundo existia e nós
existiamos realmente.
Sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insectos paravam e
zumbiam nos meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
Depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida,
entrando devagar, muito devagar e
acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti:
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.










Albano Martins



















1 comentário:

  1. É como se não tivesse nada para dizer quando és tudo o que me habita os lábios

    "Como se o teu amor tivesse outro nome no teu nome,
    chamo por ti; e o som do que digo é o amor
    que ao teu corpo substitui a doçura de um pronome
    - tu, a sílaba única de uma eclosão de flor.
    Diz-me, então, por que vens ter comigo
    no puro despertar da minha solidão?
    E que murmúrio lento de uma cantiga de amigo
    nos repete o amor numa insistência de refrão?
    É como se nada tivesse para te dizer
    quando tu és tudo o que me habita os lábios:
    linguagem breve de gestos sábios
    que os teus olhos me dão para beber.

    Nuno Júdice

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