quarta-feira, 5 de maio de 2010

sente




























estende a tua mão contra a minha boca e respira,
e sente como respiro contra ela,
e sem que eu nada diga,
sente a trémula, tocada coluna de ar
a sorvo e sopro,
ó
táctil, ininterrupta,
e a tua mão sinta contra mim
quanto aumenta o mundo












Herberto Helder



























1 comentário:

  1. Apeteceu-me dar-te os bons dias e escrever-te... a sentir tudo isto

    "escrevo-te a sentir tudo isto
    e num instante de maior lucidez poderia ser o rio
    as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos nos sais de prata da fotografia
    poderia erguer-me como o castanheiro dos contos sussurrados junto ao fogo
    e deambular trémulo com as aves
    ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na saliva dos lábios
    poderia imitar aquele pastor
    ou confundir-me com o sonho de cidade que a pouco e pouco morde a sua imobilidade

    habito neste país de água por engano
    são-me necessárias imagens radiografias de ossos
    rostos desfocados
    mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
    repara
    nada mais possuo
    a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã
    repara
    como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar"


    Al Berto

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