sexta-feira, 14 de maio de 2010

ternura amarrotada



































Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!







do David Mourão-Ferreira 









1 comentário:

  1. Mais uma vez um bom fim de semana

    Vasco (teu)

    Como é possível perder-te
    sem nunca te ter achado
    nem na polpa dos meus dedos
    se ter formado o afago
    sem termos sido a cidade
    nem termos rasgado pedras
    sem descobrirmos a cor
    nem o interior da erva.

    Como é possível perder-te
    sem nunca te ter achado
    minha raiva de ternura
    meu ódio de conhecer-te
    minha alegria profunda


    Maria Teresa Horta

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