quarta-feira, 2 de junho de 2010

a meu favor tenho o teu olhar



































A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.



E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em obscuros sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.



Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que eu adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.


















Manuel António Pina
















2 comentários:

  1. Esta noite, sinto-me bem dentro de ti... e deixo-me ficar

    Vasco (teu)

    "Esta noite
    no silêncio destas paredes sombrias
    cheias de palavras consumidas
    a lua dança com gestos de encantamento
    e as estrelas sorriem de prazer
    Esta noite
    invento-te nesta distância magoada onde as palavras repousam
    nos lábios ausentes que riem e se alimentam
    de sabores sonhados
    Esta noite
    arde uma fogueira de nostalgia
    e o mistério absorvente da tua luz
    entra em mim mansamente
    Aqui
    longe de ti e de tudo
    sinto-me bem dentro de ti
    e deixo-me ficar"

    Antonio Sem

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  2. Foi sempre tão incerto o caminho até ti:
    tantos meses de pedras e de espinhos, de
    maus presságios, de ramos que rasgavam a
    carne como forquilhas, de vozes que me
    diziam que não valia a pena continuar, que
    o teu olhar era já uma mentira; e o meu

    coração sempre tão surdo para tudo isso,
    sempre a gritar outra coisa mais alto para
    que as pernas não pudessem recordar as
    suas feridas, para que os pés ignorassem
    as penas da viagem e avançassem todos
    os dias mais um pouco, esse pouco que
    era tudo para te alcançar. Foi por isso que,

    ao contrário de ti, não quis dormir nessa
    noite: os teus beijos ainda estavam todos
    na minha boca e o desenho das tuas mãos
    na minha pele. Eu sabia que adormecer

    era deixar de sentir, e não queria perder os
    teus gestos no meu corpo um segundo que
    fosse. Então sentei-me na cama a ver-te
    dormir, e sorri como nunca sorrira antes
    dessa noite, sorri tanto. Mas tu falaste de
    repente do meio do teu sono, estendeste o
    braço na minha direcção e chamaste baixinho.
    Chamaste duas vezes. Ou três. E sempre tão
    baixinho. Mas nenhuma foi pelo meu nome.

    Maria do Rosário Pedreira

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