quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mas escrevemos, ainda assim





















Os poemas podem ser desolados
como uma carta devolvida,
por abrir. E podem ser o contrário
disso. A sua verdadeira consequência
raramente nos é revelada. Quando,
a meio de uma tarde indistinta, ou então
à noite, depois dos trabalhos do dia,
a poesia acomete o pensamento, nós
ficamos de repente mais separados
das coisas, mais sozinhos com as nossas
obsessões. E não sabemos quem poderá
acolher-nos nessa estranha, intranquila
condição. Haverá quem nos diga, no fim
de tudo: eu conheço-te e senti a tua falta?
Não sabemos. Mas escrevemos, ainda
assim. Regressamos a essa solidão
com que esperamos merecer, imagine-se,
a companhia de outra solidão. Escrevemos,
regressamos. Não há outro caminho.







Rui Pires Cabral

















10 comentários:

  1. é verdade ricardo. escrevemos, regressamos :)

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    1. Nem sempre leio os poemas todos que aqui deixam... de vez em quando algum me cativa.

      É simplesmente fantástico... e na minha ambição de crescer... se entender ajudar, se ler me fundamentar, se saber dos outros me der um lugar...

      Continua o bom trabalho :)

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  2. Escrever é a melhor vantagem da memória...

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  3. Não sabendo através de que outro meio posso contactar a Paula, inscrevo aqui o meu obrigado por ter criado este "espelho" tão precioso. Agradeço-lhe também ter um dia partilhado um poema meu. Não escrevo à procura de protagonismo mas não nego que me deixa feliz ser "encontrado" assim.

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  4. Obrigada André. Sabe, escreve de uma forma que toca, toca-me. Roubaria mais, mas acho que seria descaramento mesmo :)

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  5. Pode roubar. Duvido é, e sem falsa modéstia, que tenha os méritos para figurar ao lado de todos estes poetas maiores. Publicarei o meu primeiro livro em Outubro, mas são tantos os que se lançam, tantos os bons poetas, que é difícil luzir neste céu poético. Obrigado pelas palavras.

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  6. Podia desejar-lhe boa sorte, André, mas não precisa. Tem talento.

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