terça-feira, 31 de julho de 2012

desperdícios













« - Por que me escreves? Que inspiração alheia
te suja os dedos de versos, se os teus lábios
não pronunciaram nunca as palavras que esperei,
quando, em tardes de vento, te olhava em
silêncio? Por que interrompes a estrofe no meu nome,
a flor obscura de uma primavera que não
chegou? Deixa-me!, entre
as copas geométricas de um ritmo vegetal,
respirando na efémera duração de vozes que não ouço;
e sob um breve bater de folhas nos arbustos
perenes que o fumo da madrugada escurece: sombra
separada da própria sombra, e eco já vago
de um canto de pássaro morto! E não deixes que
a minha queixa se dissipe num rumor de águas estagnadas -
charcos da chuva sedentária do outono,
lagoas baças de um choro matinal...» Desperdícios
de vida num fundo amargo de memória.




nuno júdice
















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